Existe uma grande diferença entre o estar só, que expressa o prazer de estar sozinho, e a palavra “solidão”, que expressa a dor de sentir-se sozinho. Milhões de pessoas sofrem diariamente de solidão, uma condição psicológica debilitante caracterizada por uma profunda sensação de vazio, inutilidade, falta de controle e medo. O isolamento físico pode contribuir para sentimentos de solidão, mas as pessoas podem ser solitárias no casamento, em família, ou numa multidão. É o sentimento subjetivo de isolamento, mais que a solidão física ela mesma, que pode ser tão profundamente perturbador.
Estudiosos do assunto há muito constataram que determinadas condições podem aumentar o risco de uma pessoa se sentir só, como ser desrespeitada, ter conflitos que não são solucionados ou pouco contato com familiares e amigos. Este ano, o mundo todo ainda veio a conhecer o isolamento social. Todas são situações que podem ocorrer a qualquer um de nós ao longo da vida e que diminuem nossa sensação de estarmos conectados com os demais. A reação saudável seria nos motivarmos a buscar reconexões. Se não obtivermos sucesso, o sentimento de solidão pode vir a se dissociar da situação que o provocou, tornando-se um estado crônico.
Já se sabe que o sentimento de solidão frequentemente está na origem de muitos problemas físicos, como aumento da pressão arterial, elevação dos níveis dos hormônios do stress e alteração de alguns genes dentro das células imunitárias, com empobrecimento da função imunitária. E mais: resultados obtidos por ressonância magnética mostram que a sensação de isolamento está igualmente associada a um maior risco de depressão e a uma progressão mais rápida da doença de Alzheimer.
Todos estes resultados fazem parte de diversos estudos apresentados na última reunião anual da Associação Americana pelo Progresso das Ciências. A solidão teria assim, dizem os estudiosos do assunto, um forte impacto negativo sobre a saúde como um todo, quantificado como “duas vezes mais intenso que a obesidade”. Difícil de acreditar? Os estudiosos acreditam e vão além: eles comprovaram que a solidão é cerca de 50% hereditária, o resto se deveria a fatores ambientais. A intensidade da dor sentida quando a pessoa se sente socialmente isolada é que parece ser uma predisposição inata. Se uma pessoa é especialmente sensível, ela se beneficiará muito e melhorará nitidamente sua saúde e bem-estar, ao priorizar o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos de alta qualidade.
E o que seriam “relacionamentos de alta qualidade”? John Cacioppo, professor de psicologia na universidade de Chicago e expert reconhecido sobre os efeitos da solidão, estabelece três pontos fundamentais para considerar boas as relações sociais de alguém: ter pelo menos uma pessoa íntima em sua vida, que lhe aceite e aprecie tal qual é (este poderia bem ser o número um em qualidade!), ter relações sociais mutuamente enriquecedoras e fazer parte de uma comunidade que lhe dê o sentimento de pertencer a um grupo e de ter uma existência na coletividade.
Para John Cacioppo, é muito importante sair em busca e encontrar os meios de se reconectar: “As pessoas que se sentem solitárias tem uma espécie de fome, e é essencial compreender que sua satisfação não reside em se servirem simplesmente de uma boa refeição. É preciso que se sintam na cozinha, preparando e compartilhando com os outros sua refeição.”
Por diversas vezes, temos abordado aqui questões ligadas ao valor da intimidade em nossas vidas. Por isso, adoramos estes dados recentes que confirmam o que outros estudiosos vem dizendo há décadas!