A origem da gratidão

Comportamento
11.ago.2015

Você já se deteve a pensar um pouco sobre o sentimento de gratidão? Dela já se disse que é “a mais agradável das virtudes”, mas também, já vamos adiantando, é das mais raras. Um dos sentimentos mais evoluídos do ser humano, tem uma estruturação, de certa forma, um pouco complicada: para ser grato a alguém, é preciso que se admita ter recebido algo deste alguém. Isto significa admitir também que o outro tinha algo que lhe faltava, ou seja, tinha a mais do que quem recebe. Conclusão: para experimentar a gratidão, vai ser preciso ultrapassar a inveja, que chega com tudo nesta hora, disposta a anular o que se recebeu. Não tendo recebido nada, não há o que agradecer, não é?

Existe um mérito em sentir gratidão, pois ela, por si, nada tem a oferecer, a não ser o prazer de ter recebido. Prazer de receber, alegria pelo prazer que se sente, tudo faz parte da gratidão, que retribui pelo agradecimento. Já a ingratidão põe em evidência, além da incapacidade de retribuir, sob a forma de amor, um pouco da alegria experimentada, também a incapacidade de receber.

A gratidão, entre tantas coisa, anda rara. É a força do “narcisismo” dos nossos dias que explica a raridade da gratidão. Como não seria alguém grato, se só sabe amar a si, admirar a si, celebrar a si?

A gratidão é muitas vezes confundida com uma retribuição de cortesias. Só que trocar um favor por outro não tem a ver necessariamente com gratidão, muitas vezes é só troca, mesmo. Gratidão também não é aquela espécie de reconhecimento falso, de quem só agradece para obter mais. Nesse caso é lisonja e vem, muitas vezes,  acompanhada de mal disfarçada servilidade. Na gratidão, existe um alegria humilde, de quem agradece porque sabe que é bom agradecer, antes de saber a quem ou como. A gratidão se regozija com o que aconteceu!

A psicanálise postula, de forma muito interessante,  que é a satisfação de um bebê que forma a base da gratidão. Ela teria suas raízes nas emoções e atitudes que surgem no mais primitivo estágio da infância, quando, para o bebê, a mãe constitui  o único e exclusivo “objeto”. Ao se sentir plenamente atendido em sua necessidade de mamar, o bebê sentiria ter recebido do objeto amado  uma espécie de presente exclusivo , que deseja manter consigo.

Esta passaria a ser a base da gratidão, que fundamenta também a apreciação da bondade nos outros e em si próprio: a gratidão está muito estreitamente vinculada à confiança em figuras boas. E, quanto mais amiúde a gratificação é experimentada pelo bebê, com mais frequência o desejo de retribuir o prazer proporcionado seria sentido. Tal experiência recorrente é que tornaria possível  a gratidão futura no adulto.

Segundo ainda a psicanálise, a gratidão está estreitamente ligada à generosidade. A riqueza interna proporcionada pela generosidade derivaria de se ter conseguido  assimilar o “objeto bom” de tal forma que nos tornamos capazes de compartilhar nossos dons com outros, por adquirirmos a percepção de um mundo mais amistoso e confiável.

Bonitas considerações fizeram os estudiosos, não é? E você, o que pensa da gratidão?

assinatura_simone

 

 

Artigos relacionados

19 jun

Isso é coisa da sua cabeça… Gaslighting.

“Isso é coisa da sua cabeça!!”, “Você está imaginando isso!!”, “Você é louca!!”… Quem dentre nós, mulheres, já ouviu essas afirmações em momentos em que só estavam falando de coisas que estavam de fato acontecendo? Atualmente existe um nome pra esse tipo de abuso: Gaslighting, devidamente registrado no dicionário Cambridge da língua inglesa. Alguém já […]

  • 843
Comportamento
27 nov

Em busca de si mesmo

Um tipo de pensamento que passa pela cabeça da maioria das pessoas  atualmente é: “acho até que está tudo indo bem na minha vida, mas será que sou tão feliz quanto poderia ser?” E aí, nossa pergunta: o que será que faz questionamentos desse tipo serem tão comuns em nossa cultura atual? O filósofo alemão […]

  • 1306
Comportamento
10 jan

Sobre a intensidade da vida

Todos nós sonhamos com a intensidade em nossas vidas, idealizando o que é intenso como “o melhor”. Só que, parando rapidamente para pensar, vamos nos dar conta que não há intensidade a não ser pelo contraste. Tive um professor que gostava de repetir que ninguém sobreviveria a um concerto, se a música tivesse somente momentos […]

  • 1774
Comportamento