A ideia segundo a qual o grupo torna todos mais geniais anda muito em voga no mundo corporativo. É o tão citado conceito de “inteligência coletiva”, que teria nascido, dizem, da observação das formigas e das abelhas que, como os humanos, apostam no trabalho em comum para sobreviver. Posteriormente, o conceito evoluiu a partir da influência das novas tecnologias, da internet e das redes sociais.
Exaltada por pensadores respeitados da atualidade, a inteligência coletiva é hoje largamente utilizada pelos especialistas em gestão. Nas empresas, encontros, reuniões e videoconferências se multiplicam; já o “open space” surge quase como uma obrigação. Acredita-se que este seria um ambiente de trabalho privilegiado, com todos conectados a todo momento, as equipes forçosamente seriam mais “inteligentes”. O que em geral não é dito é que tais ambientes buscam deixar os funcionários mais eficientes, sem outra opção a não ser focar em seu trabalho, de tal forma a obter melhores performances.
Cabe aqui uma indagação: será que somos todos, sem exceção, mais criativos quando em grupo? Certamente não, poderíamos afirmar: confrontados com tantas ideias, alguns perdem o fio das suas próprias, e desistem de tentar se fazer entender. Há mesmo quem não suporte este tipo de reunião, onde pode acontecer de ninguém se escutar, já que todos estão preocupados em se exprimir. Além do que, os mais extrovertidos não são forçosamente os mais inteligentes, nem os que mais sabem.
Estudos recentes mostram que, efetivamente, o coletivo inibe a criatividade e as capacidades intelectuais daqueles que não se sentem muito confortáveis em grupo. Para chegar a tais conclusões, pesquisadores observaram, com a ajuda de ressonância magnética, que a ativação das zonas utilizadas para refletir e resolver dificuldades – o que é exigido de nós em nossos trabalhos – era menor nos que têm menos confiança em si, não gostam de se impor, não conseguem falar em público, ou não se julgam capazes de convencer os outros. Em pouco tempo, os introvertidos estão fadados a se tornar malvistos no seio das empresas que privilegiam o trabalho de grupo.
Desde sempre, escritores, poetas, pensadores e inventores mais engenhosos demonstraram que é na solidão e na intimidade que criamos o melhor. E, como hoje em dia temos pesquisas de toda sorte, pesquisadores em Berlim recentemente concluíram que ficar sentados diante de nosso posto de trabalho em “open space”, quase imóveis para evitar de incomodar os outros, constitui igualmente um perigo para o bom desempenho de nossa atividade intelectual. E agora?? Somos mais inteligentes e memorizamos melhor quando somos livres em nossos movimentos e nos movemos em nosso próprio ritmo, conclui a pesquisa…
Freud e outros descreveram há muito que nos tornamos facilmente mais estúpidos quando somos muitos. Grandes grupos, sobretudo aqueles que contam com milhares, milhões de membros, perdem facilmente a razão. A alma das multidões começa por engolir o ego dos indivíduos e, sem ele, perdemos também a capacidade de autocrítica: não somos mais responsáveis por nada, somos a multidão, a quem tudo é permitido. Aí então, o bem e o mal não existem mais, e o espírito crítico adormece.
O inverso do embrutecimento produzido pela multidão deve ser o instinto gregário produzido do grupo. Esta noção, obtida a partir dos laboratórios de pesquisa, está se disseminando em muitas empresas, onde competências complementares e reconhecidas como tais são convidadas a fazer sua própria parte. O fato é que é preciso prestar atenção, em se tratando deste tipo de experiência. Pois só estaremos diante de uma verdadeira inteligência coletiva quando todas as vozes do grupo puderem ser ouvidas. Se algumas forem “soterradas”, o conceito perde seu valor.