Já reparou que quando pensamos se gostaríamos de renunciar ao que temos num dado momento, para nos engajar num novo caminho, entramos de imediato em contato com o medo? O tão propalado medo da mudança, do desconhecido, se instala sem ser convidado e causa logo um certo desconforto. Isso é normal? Claro que sim, diríamos. Se não ousamos, mantemos longe o medo de nos lançar e nos arrepender depois. Porque, eventualmente, podemos vir a não encontrar nada que compense o que estamos prestes a abandonar.
Este tipo de medo é tão legítimo, que poderíamos até dizer tratar-se de uma fase a ser ultrapassada para chegarmos à coragem. Nada a ver, diria alguém mais apressado. Mas é verdade, alguns estudiosos já até definiram a coragem de uma forma bem interessante: ela não seria simplesmente a ausência dos medos e sim, a possibilidade de não termos mais medo de nossos medos. Ou seja, o que precisamos é aprender a avançar apesar do medo. Não é uma boa percepção??
Quando nos apresentamos, finalmente investidos de coragem, costumamos mobilizar algumas reações à volta: é só esperar e pessimistas aparecerão, tentando nos dissuadir, dizendo que é impossível, que outros antes de nós tentaram… Contra um sonho declarado, eles vão levantar uma conjuntura, uma condição do mercado, ou uma nova ordem mundial qualquer. E isto é precisamente tudo o que uma boa dose de coragem pode modificar.
Nossa coragem precisa, entretanto, de um certo ambiente favorável para se desenvolver. É preciso tomar cuidado para não sufocá-la logo no nascedouro. Como isso poderia acontecer? É que a soma das nossas “pequenas covardias” pode ir devastando pouco a pouco nosso potencial de coragem. Ao contrário, o conjunto de nossos “atos de resistência” (cada um de nós sabe dos seus) por mínimos que sejam, nos fortalece para as grandes decisões.
Hoje em dia, vamos ter muitas vezes a sensação de que a sociedade em que vivemos não favorece a coragem. É que há entre nós uma questão que a refreia: a “cultura do resultado”. A coragem fica mais distante dos que são obcecados por resultados imediatos e, nesse caso, basta a perspectiva de falhar para que fiquemos paralisados, diante do medo do fracasso. Em geral, em situações deste tipo, preferimos encobrir nossa covardia a alegamos “prudência”. Não notamos ainda que, sempre que damos uma prova de coragem, estamos cultivando um pouco mais a nossa vontade e a nossa liberdade.
E, por fim, é bom lembrar que podemos sofrer derrotas, mas o verdadeiro fracasso é jamais correr o risco de falhar. Pautando nossa vida por uma constante falta de coragem para ousar, corremos o risco de chegar ao fim da vida com a angústia de ter vivido sem ousar tentar ser, de verdade.