Quando pensamos em generosidade, vem-nos a indagação: o que pode fazer com que pessoas sejam mais ou menos generosas? Existiria uma maior, digamos assim, aptidão à generosidade? Ou seria ela uma espécie de “luxo” da alma, que dependeria de cultivo para chegar à sua melhor forma? O que sabemos, afinal, sobre a generosidade? Vamos lá: sabemos que ela é subjetiva, espontânea, singular… E o que mais?
Para começar, temos um detalhe muito importante e que não pode ser deixado de lado. É que, para ser generosa, é preciso, antes de tudo, que a pessoa seja íntegra. Por que? Porque a generosidade é um ato de amor, mas não dirigido a alguém em especifico. Trata-se do desejo de pautar a própria vida por um amor mais amplo e abrangente do que aquele já existente em nossas relações pessoais.
Nas relações com os que amamos, vemos a generosidade brotar facilmente… Sim, é praticamente impossível amar sem dar, pois o amor nos faz sentir alegria por poder ofertar algo a quem amamos. Muito provavelmente, generosidade é algo que não nos faltará quando amarmos, ela virá atrelada ao próprio amor.
A questão é: como é possível, entretanto, doar sem amar? É este ponto para o qual os estudiosos do assunto chamam a atenção. É aí que reside a beleza da generosidade. É que, na ausência do amor, aprendemos através da razão, que ao longo da vida se aprimora. Aprendemos, por exemplo, que todo ódio é ruim. Percebemos também que, quando nos deixamos conduzir pela lucidez e discernimento, passamos a desejar aos outros o que queremos para nós mesmos.
Quem tem esta postura diante da vida se esforça, na medida do possível, por combater pela generosidade o ódio, a cólera, o desprezo ou a inveja, que não passam de tristezas ou de causas de tristezas. É interessante assinalar que a generosidade não tem, em princípio, nada a ver com nenhuma religião, ela apenas sucede às reflexões de alguém sensato.
A conclusão a que chegam alguns autores que se ocuparam deste tema é que a generosidade corresponde ao esforço de alguém por agir, na falta do amor, como se amasse. É esta a ideia da generosidade: não um amor, mas um desejo de alegria e de partilha, pelo qual um individuo se esforça por ajudar seu semelhante e estabelecer com ele uma relação positiva.
O espírito da generosidade é que o ódio deve ser vencido pelo amor, a tristeza pela alegria, e assim por diante. Esta seria a grande função da generosidade. O generoso ama o amor, o que, em outras palavras, significa regozijar-se com a ideia de que o amor existe, e também esforçar-se por fazê-lo advir.
Mas atenção: não estamos aqui falando de viver além do bem e do mal, isso não seria possível mesmo. Mas seria muito bom termos em mente que a generosidade nos eleva em direção aos outros e, poderíamos dizer, em direção a nós mesmos, libertando-nos de nosso pequeno eu…