Alegria de viver, uma herança extraordinária

Filhos
21.mar.2017

Em tempos tão cheios de mudanças e incertezas, o que podemos querer para o futuro de nossos filhos? “Que sejam felizes”, é a frase que provavelmente virá à nossa cabeça. “Felicidade” seria a palavra que melhor resumiria o que desejamos a eles. Muito bem, mas, e a saúde?  Ah, também, embora não possamos garanti-la, infelizmente. Conquistas, vitórias, sucesso?? Claro, mas também sabemos que poderão ser efêmeros, quando obtidos. Dinheiro, amor?  Estes, então, nem se fala: podem ir e vir muitas vezes durante uma vida…

E porque será então que desejamos, não só aos filhos, mas a todos a quem queremos bem, “saúde, sucesso, dinheiro e amor”, se o que esperamos é só que sejam felizes?  Provavelmente, imaginando que se vierem a possuir tudo isso serão felizes, certo?

É aqui que surge nossa indagação: o que, de fato, poderia favorecer o acesso de alguém à felicidade? De acordo com estudiosos do comportamento humano, a resposta é bem diferente dos votos que habitualmente fazemos: o papel principal deste caminho, pertence, na verdade, à mais pura e simples alegria de viver.

Difícil de acreditar? Bem, primeiro é preciso deixar claro o que se entende por “alegria de viver”, exatamente. O conceito é simples: trata-se apenas de exercer a capacidade que cada um de nós possui de se encantar e se deixar arrebatar pela vida, de regozijar-se pela existência em si. Isto, para muitos que estudam o tema, seria o que estaria mais próximo de uma “chave” para a felicidade verdadeira.

Na prática, todos os que tem ou tiveram a oportunidade de acompanhar as descobertas de uma criança pequena, identificarão facilmente o que abordamos aqui. Falamos da alegria genuína que vem do interior dela, da intensidade de seu riso espontâneo, do olhar maravilhado e atento para tudo o que é vivo, colorido ou se move. Falamos da novidade, ainda não vivenciada como ameaça.

Estaríamos aqui, então, diante do valor mais precioso a ser ensinado aos filhos, a manutenção do amor incondicional à vida? Parece-nos que sim, pois o grande desafio do adulto é manter viva a criança dentro de si, com a capacidade de rir de tudo intacta. A ideia de educar os filhos com este enfoque não vingará, entretanto, se nós mesmos não possuirmos o amor à vida que pretendemos semear. Como inúmeros desses estudiosos do comportamento já nos ensinaram, só conseguimos transmitir aos filhos aquilo que vivenciamos ou em que acreditamos de fato. Assim, será em vão que diremos a nossos filhos coisas como “é preciso apreciar a vida”, se o nosso próprio modo de ser não estiver de acordo com este preceito.

A alegria de viver é, antes de tudo, uma filosofia de vida, que não se apaga mesmo depois de passarmos por momentos de tristeza ou depressão mais ou menos duráveis. Em momentos de tristeza, inclusive, é positivo quando se aceita a mudança temporária e se explica aos filhos que não se está bem naquele momento, mas que a culpa não é deles. Eles devem saber que isso acontece, às vezes, já que estar vivo pressupõe passar por momentos alegres e tristes. Para amar a vida, é preciso aceitar que as coisas se passam desta forma.

As crianças precisam de espaço para explorarem o mundo à sua volta e se divertirem com suas descobertas. A alegria surge com a estimulação da curiosidade, que por sua vez potencializa o desejo de descobrir a vida. Uma das melhores formas de aprendizado da alegria de viver pode ser adquirida através do brincar. Impregnar o dia a dia de uma condição lúdica é ótimo na relação com os filhos. Só é bom lembrar que ironias devem ser evitadas, já que consistem em se dizer o inverso do que se pensa e as crianças podem não compreender bem e pensar que se ri delas.

As crianças são, sem que o saibam, nossos maiores mestres da alegria de viver: são elas que, com suas risadas inocentes, seu entusiasmo ilimitado pelas descobertas e seus “outra vez”, nos ensinam. Se entrarmos em seu mundo lúdico e interagirmos dentro desse universo,  compartilharemos uma fascinante e única experiência de felicidade.

 

simone_sotto_mayor

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