O recurso da intuição

Mulher
13.jun.2017

Desde cedo, por força da educação que recebemos, aprendemos a não dar crédito a certos “sentimentos” a respeito de fatos e pessoas que de vez em quando se apresentam a nós. Mas já pensou no que aconteceria se decidíssemos, em vez de colocá-los de lado, abrir-lhes espaço e começar, pouco a pouco, a aprender a apostar neles? Estudiosos do assunto nos afirmam que os resultados podem ser surpreendentes para qualquer um que vença a barreira do preconceito inicial. Será?

Então vamos lá, examinar a questão com mais vagar. É fácil de perceber que, no mundo em que vivemos, onde tudo está em constante mudança, cada vez temos menos em que nos basear ou a quem consultar. Antes, quando uma dúvida nos assaltava, tínhamos a ajuda segura dos mais velhos ou das tradições. Dispúnhamos de normas, vindas do passado, e nelas nos apoiávamos. As tradições nos serviam. Hoje é diferente: os critérios mudam rapidamente e sua obsolescência parece tão programada quanto a de nossos celulares. Não temos uma norma a que recorrer para avaliar e formar opinião sobre coisas tão inesperadas quanto o destino dos embriões congelados ou como devemos abordar os direitos das crianças transgênero. A tradição não nos ajuda a responder às questões que nos são colocadas sobre a família, o trabalho, a sociedade. Este é o efeito do tempo em que vivemos, de inédita aceleração do progresso técnico. O tempo todo temos que aprender a julgar nossas vidas, nossas práticas profissionais ou nossos caminhos amorosos sem a segurança dos critérios indiscutíveis.

E então, como sairemos desses impasses? A alternativa seria passar a tentar julgar sem critérios prévios, não é? Mas por acaso, não seria esta a própria definição de intuição?  O único critério, em se tratando de intuição, é que não há critério: na prática, não há nada além da pessoa, ela mesma. Isto significa aprender a confiar em si, ousar se escutar. Quando os mais velhos não conseguem mais nos “iluminar” o presente com sua experiência e até os especialistas se contradizem, o recurso mais cabível pode ser nos interessarmos por aprender a contar conosco mesmo.

E como caminhar nessa direção, ou seja, como desenvolver nossa capacidade de intuir? Muitos pesquisadores do tema já disseram que é preciso aprender a acolher os momentos de uma “plena presença de si mesmo”. E, para fazer com que estes momentos nos ocorram com mais frequência, começar por nos desfazer da submissão às verdades autorizadas. Se alguém insiste em sempre se submeter a uma verdade indiscutível, um suposto “senso comum” ou mesmo à evidência de uma prática profissional consagrada, estará se impedindo de acessar sua intuição. A conclusão é que precisamos nos desapegar um pouco do que aprendemos, para usar a intuição.

Ser intuitivo é ousar trilhar o caminho contrário: partir do particular e buscar o geral. É uma forma básica de entender o mundo que nos cerca, onde o conhecimento é baseado em memórias, em geral inconscientes, de experiências pessoais passadas.  Comparações inconscientes com as experiências presentes são feitas, de forma muito rápida e sem que o indivíduo se dê conta do que está ocorrendo. Infelizmente, o raciocínio intuitivo é visto ainda como uma forma superficial de compreender o mundo, já que a pessoa não sabe explicar o porquê de suas conclusões. Os fatos usados para formá-las, baseados em suas antigas experiências, não são processados por quem apenas intui ou “conclui” que são tal como são, aceitando tal conclusão como natural. Isso porque tudo o que a referida pessoa sabe foi captado por seus sentidos, guardado em sua memória e é utilizado quase que automaticamente no seu dia a dia, como um meio de entender o mundo que o cerca.

A intuição é uma forma de conhecimento que está dentro de todos nós, embora nem todas as pessoas saibam utilizá-la. Grandes cientistas, entre eles o físico Albert Einstein, considerado o maior intuitivo da história, enfatizaram o valor do potencial intuitivo. Aprender a confiar na intuição é um grande desafio, pois o senso comum ainda a considera um conhecimento de risco. É um caminho individual, cada um de nós vai precisar autorizar o seu.

 

simone_sotto_mayor

 

 

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