Do prazer à adição: uma epidemia moderna?

Comportamento
19.set.2017

 

Um olhar um pouco mais atento ao nosso redor pode nos levar a uma indagação: será que cada vez mais surgem patologias ligadas às condutas de adição? Não falamos daquelas adições, digamos, mais tradicionais, como as toxicomanias. Falamos das “adições comportamentais”, que parecem estar entre nós de forma cada vez mais natural.  Será que nossa relação com o que nos dá prazer está se tornando análoga às toxicomanias? Ou seja, estaríamos nos tornando incapazes de viver bem com prazeres limitados, ao tentar obter mais e mais prazer de um produto ou uma atividade que nos agrada?

A questão pode ser boa para uma reflexão. Estudos recentes feitos simultaneamente em vários países ocidentais nos contam que cerca de 6% dos consumidores se endividam por comprarem e acumularem objetos de que não necessitam! Muito, não é? Existem grupos de ajuda mútua para “comedores compulsivos”, bem como para os acometidos de outras compulsões alimentares (anorexia e bulimia). Há também os que se auto intitulam “devedores anônimos”, sendo que aqui entram os compradores compulsivos, os que não conseguem deixar de se endividar excessivamente, os que não conseguem cobrar uma remuneração justa por seus serviços…  Por que tantos comportamentos marcados pela impulsividade e pela perda do controle?

A resposta imediata e fácil é que vivemos numa sociedade de consumo, onde possuir é o imperativo vital e a frustração de não ter, intolerável. E onde, é claro, os novos objetos de prazer não param de aparecer e toda novidade é capaz de inaugurar uma nova adição. Os mais jovens são mais predispostos a comportamentos de adição e alguns estudiosos se indagam se tudo não seria “uma consequência do sentimento de solidão, que se instala mais e mais devido ao enfraquecimento dos laços sociais e à ausência de sonhos coletivos”. Até que faria sentido, não é? Mas ainda não se pode afirmar nada a este respeito, mais estudos se fazem necessários.

Sendo assim, como ficamos? Bem, o que podemos afirmar é que todos sofremos com nossas carências e também com nossas pequenas dependências, já que o ser humano é mais movido pelo princípio do prazer do que pela razão. Mas não custa prestar atenção para perceber  compulsões “disfarçadas”: comprar compulsivamente , por exemplo, pode ser  dissimulado como um “lazer” para a família nos finais de semana. E sair para “encontrar amigos” pode  tratar-se apenas uma desculpa para habituais dias ou noites de embriaguez acompanhada…

 

simone_sotto_mayor

Artigos relacionados

15 nov

O medo do ridículo: de onde vem?

O medo do ridículo é universal, só que uns o sentem mais do que outros. Quando jovens, em geral todos temos mais dificuldades nessa área, porque tendemos a ter uma identidade mais grupal do que individual. Pensamos da mesma forma que nosso grupo pensa e o medo da rejeição nos faz abrir mão de nossas […]

  • 1677
Comportamento
6 set

O “nunca mais”

É preciso disposição para pensar nos tipos de medos a que nós, seres humanos, estamos expostos, tantos que são. Como superar os medos que acabam nos impedindo de viver bem, livres e lúcidos, capazes de pensar, agir e amar? Pois é, a maioria dos medos que nos surgem na infância vão embora com o tempo. […]

  • 1397
Comportamento
26 fev

A sabedoria dos fracassos

Nesses tempos em que todos querem ter sucesso sempre, e os jovens, principalmente, não conseguem se acostumar à ideia de que podem sim, falhar de vez em quando, surge a pergunta: haveria um jeito de nunca passar por um insucesso? A resposta, claro, é: não! Para minimizar a possibilidade de fracassar, alguém teria de se […]

  • 2395
Comportamento