A maioria de nós já esteve perto ou ouviu histórias de alguém que se submeteu a um processo de reprodução assistida: conhecemos a perspectiva da mulher, que é, afinal, quem se submete aos diversos procedimentos.
Sabemos que para ela é um período difícil e doloroso e nos acostumamos a perceber o homem, neste caso, como mero coadjuvante. Caberia a ele o papel de acompanhar e apoiar sua mulher, além de doar seus espermatozoides.
Mas, seria mesmo só isso? A visão é um tanto reducionista, é o que nos contam estudos que colheram depoimentos de casais que se submetem a este tipo de protocolo.
Este caminho em direção à fertilização demanda, aos dois, disponibilidade fisiológica, corporal, psicológica e logística. Homens com maiores condições de reflexão e conscientização, ou que estejam em terapia, costumam se questionar sobre o desejo da paternidade a qualquer custo, seu papel como homem doador e sua figura praticamente obscurecida pela da mulher, para quem todas as atenções se voltam. E aquela grande maioria masculina, que não chega a encontrar palavras para entender o que sente?
Se alguém perguntar como um homem se sente nessa condição, encontrará alguns que conseguem admitir que são afetados emocionalmente pelo processo e que não conversam sobre o assunto com suas companheiras. Culturalmente, os homens não tem o hábito de refletir ou de pedir ajuda, e nem mesmo de compartilhar vivências íntimas, como as que surgem inevitavelmente durante um processo de fertilização.
Os anos que muitas vezes são investidos no processo até que a fertilização bem sucedida aconteça, demandam aos participantes muita energia interna, e tudo indica que seria bom para os homens se ousassem reivindicar um lugar num contexto onde isso não foi previsto.
Afirma uma das pesquisas que, se o casal conseguir afastar o papel de doador do homem e deixá-lo tomar um lugar só seu no processo, com direito à chance de elaborar seus conflitos, este poderá ser um período de grande aprendizado individual. E, se ambos resistirem a todas as dificuldades, deverão chegar ao final do processo com seus vínculos afetivos mais consolidados e, provavelmente, mais unidos do que nunca.
Eu acredito. E você?