Nossos adolescentes vistos pelos outros

Filhos
02.jan.2018

Revoltados, mal-humorados e desorganizados. Em casa, raramente nossos adolescentes nos mostram o melhor deles mesmos. Mas, ao olhar de outros adultos, eles se revelam de repente educados, gentis, prestativos e conversadores. Mesmo quando o clima não chega a ser de animosidade, dá para perceber pais desanimados e perplexos diante de filhos que lhes reservam apenas acessos de raiva e comentários mordazes, enquanto oferecem outras facetas bem mais agradáveis de sua personalidade a outros adultos. Que fenômeno será este, afinal?

O ponto é que, dizem estudiosos do assunto, o adolescente não tem outra escolha, precisa agir desta forma. Aos seus olhos, adultos tem o poder sobre ele, mas o poder exercido por seus pais é o maior de todos: ele se sente como uma espécie de possessão deles. Mesmo reconhecendo o pai e a mãe como os guardiões de sua segurança, eles lhe parecem os principais obstáculos à conquista de sua liberdade emocional e psíquica.

Sem alternativa, o adolescente começa por dizer a seus pais, de uma forma ou de outra, “eu não vou ser como vocês”, para que seu processo de individualização (que lhe permitirá tornar-se um adulto singular), tenha sucesso. Este processo o fragiliza e lhe demanda muita energia, já que sua necessidade de se diferenciar dos pais torna-se uma questão vital, daí fechar-se aos pais.

Por outro lado, o jovem não sente a mesma necessidade de manter-se distante quando está com outros adultos, sejam pais de amigos, professores ou membros da família com quem não costuma estar no dia a dia. Nesses ambientes ele costuma ser capaz de discutir num tom moderado. E até, surpreendentemente, vir a usar os mesmos argumentos de seus pais, que em casa contesta.

Como pode? Pois é, quando se encontra fora do ambiente familiar, o jovem traz consigo sua bagagem cultural. Muito do que contesta na presença dos pais poderá ser utilizado como argumentos com outros adultos, o que mostra que nem tudo o que vem de casa está sendo descartado, alguma identificação permanece, apesar de todos os enfrentamentos.

Alguns pais podem se sentir incomodados por essa proximidade relacional de seus filhos com outros adultos. Mas, se compreenderem o que se passa na realidade, podem até sentir um certo alívio de terem uma folga de vez em quando e também entender que, a esta altura, já não podem oferecer aos filhos tudo o que necessitam para seu desenvolvimento. Uma vez aceitando isso, vão notar o quanto é um fator de enriquecimento, para um jovem, investir na relação com outros adultos.

Aos pais, resta um consolo, interessante e natural: a presença em suas casas dos filhos de seus amigos, ou dos amigos de seus filhos. Educados, entusiasmados e sorridentes, eles também só estarão buscando adultos que se comuniquem com eles…

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