Desfrutar da vida, oferecendo-nos momentos só nossos, pode ser uma coisa simples para alguns e difícil de alcançar para outros. Esta é, entretanto, uma ideia de felicidade bem antiga: foi Epícuro, filósofo que viveu no século lV a.c., quem primeiro afirmou que o verdadeiro prazer do ser humano não estaria na satisfação do corpo, mas na libertação do sofrimento, da dor e do medo. Para se chegar ao estado de extinção da dor, dizia o filósofo, seria preciso trocar a procura desenfreada por bens e prazeres corporais, que seriam passageiros, pela busca da serenidade e do equilíbrio. O pensamento chega a surpreender pela atualidade ao nos depararmos, nos dias de hoje, com a inquietação que nos causam o individualismo e a sociedade baseada no consumo.
Para os indivíduos que prestam atenção às suas necessidades e procuram atendê-las de forma apropriada, ou seja, com moderação e sem causar danos aos demais, o prazer pode ser algo simples e natural. Para estes, os instantes de felicidade têm lugar em alguns dos chamados “momentos comuns” de sua própria vida. Momentos que acontecem sem serem buscados, sem planejamento e que ocorrem somente por conta do acaso. E como isso se dá?
O encontro solitário com a natureza é o exemplo mais próximo e frequente que me surge ao falar disso. Há diversos relatos da riqueza contida na experiência de estar em contato sozinho com a natureza. Outro exemplo, acessível a qualquer um de nós, é o amor que vem com a alegria da intimidade. As duas circunstâncias sã oportunidades propícias ao surgimento da sensação de felicidade a nos invadir, cada vez com mais frequência. O prazer que simplesmente “acontece” irrompe na vida de alguém inesperadamente e, quanto mais a pessoa se abre a essa experiência, prestando atenção nela, mais vezes isso lhe acontecerá. Não é uma ótima notícia?
A experiência do prazer com a existência, de forma simples e espontânea, é um prêmio ou até uma bênção: quem experimenta este tipo de felicidade tem, com certeza, uma relação harmoniosa com a própria existência. Provavelmente trata-se de alguém que não se esquece nunca que viver (ou estar vivo) é uma sorte. E saborear o momento presente, uma sabedoria!
Tudo isso faz parte deste tipo de felicidade que escolhemos para falar hoje, aquela que costumam chamar de simples e espontânea. A certa altura da vida, torna-se possível a alguém já saber que há grande chance de viver um desses momentos se for a determinados lugares ou encontrar-se com certas pessoas queridas. E assim, esses momentos podem ser também facilitados com o cultivo do que possam ser boas vivências.
E vale lembrar que ajuda muito, ou mesmo vem antes de tudo isso, a capacidade que a pessoa tem de extrair da vida o que há de melhor, sempre! Algo assim como um estilo de ser, uma forma de estar no mundo.