Algumas vantagens da solidão

Comportamento
14.ago.2018

Você sabia que, para acessar um estado de paz e calmaria, recomenda-se buscar a solidão? A ideia, que pode até surpreender, é oferecer-se um encontro consigo mesmo: está provado que é longe do tumulto que vamos encontrar a melhor forma de nos aproximarmos do que é essencial em nossas vidas, ou seja, a alegria, o amor, e até mesmo os outros. Na solidão (que no caso é o isolamento voluntário) podemos restabelecer a ligação com nossa alma de criança, nossos desejos profundos, ou entrar em contato com o “sagrado”, o “absoluto”.

A solidão é uma oportunidade de se pensar a própria vida. É quando se torna possível refletir sobre desafios e questões da nossa existência, e questionar se é possível vê-los como oportunidades. A partir daí, virá a decisão de tomar uma direção. Uma vez no novo percurso, será preciso prestar atenção aos sinais, sejam de conforto ou desconforto. Eles é que indicam se os caminhos escolhidos são os melhores ou não para cada um de nós. Fazer isso regularmente nos ajuda (e muito!) a rever nossas escolhas e direções.

E como podemos nos iniciar na “arte de tirar proveito da solidão”? Bem, o primeiro passo consiste em não fugir dela. Ao contrário: este é um estilo de vida que deve ser desejado e, em seguida, assimilado. Quando conseguimos passar a praticá-lo, temos acesso a uma vida ao mesmo tempo suave e intensa. Esta solidão, repare bem, é o contrário do isolamento, que é um estado depressivo, onde estamos voltados para o sofrimento. A solidão de que falamos é voluntária, onde estamos sós porque decidimos assim. Ela pode ser exercida de várias formas: fazendo caminhadas em meio à natureza, passando uns dias num lugar isolado, observando as paisagens a que temos acesso, pensando nos que amamos, meditando…

E como encontrar o tempo e o espaço para esta prática? É  aí que se fará necessária a intervenção de nossa vontade. Se desejamos ter acesso à importância do essencial, vamos encontrar o tempo. Mas, e o risco que corremos de, às vezes, nos isolarmos um pouco? Isso deve ser dosado com  bom senso, apesar de, na verdade, não estarmos nunca sozinhos na solidão. Estamos em comunhão com a humanidade, a natureza e o sagrado. E também com os que contaram e os que ainda contam para nós. Se nos abrirmos a nosso mundo interno nesses momentos, uma boa dúzia de pessoas surgirá: muitos que desapareceram de nossa visão, sejam vivos ou mortos, mas cuja presença sempre se manifesta em nós. Com a prática, poderemos guardar cuidadosamente quem nos ajudou ou completou, e remover quem nos fez ou faz sofrer. Nós nos aliviamos de fardos dolorosos e aprofundamos a compreensão do que nos traz alegria e amor.

Um detalhe importante no caminho do aprendizado da prática da solidão voluntária é que, se não chegarmos a sentir tudo isso, é porque ainda não tivemos sucesso no trabalho de conexão com o que nos constitui internamente.

Mas vale muito, muito mesmo, aprender.   

Artigos relacionados

7 ago

Quanto vale a empatia?

Benevolência, compaixão, altruísmo e empatia são hoje palavras que traduzem a preocupação com o outro e que passam cada vez mais a fazer parte de nosso vocabulário comum. Fico me perguntando se isso aconteceu por conta da difusão de conceitos da “psicologia positiva”, que estimula a gratidão, em vez da auto compaixão, ou da influência […]

  • 2251
Comportamento
10 out

Os limites da verdade com nossos doentes

O quanto é possível se dizer a verdade? Deve-se dizer tudo ao outro? Ou até, é possível se dizer sempre a verdade? Uma situação limite que um médico (ou até qualquer um de nós) pode passar é: o que se deve dizer a um doente terminal? Contar sempre a verdade e arriscar até prever-lhe um […]

  • 1225
Comportamento
24 jul

Bela velhice!

“Envelhecer bem”, ou seja, adaptar-se àquela que será a derradeira fase na vida é um desafio para ambos os gêneros. Entretanto, em nossa sociedade contemporânea, as diferenças entre homens ou mulheres atravessando esse período se fazem bem marcantes, com elementos que facilitam a aceitação do processo por um grupo e que não se apresentam para […]

  • 1563
Comportamento