Como todo mundo, eu e você estamos vivendo sob a pandemia, em função da pandemia. Após todos esses meses, o medo de adoecer e vir a morrer está mais do que presente em nossas conversas e atitudes. Nosso medo não só é verbalizado como também está nas nossas mãos mais do que lavadas, no álcool gel com que as desinfetamos automaticamente, sem pensar, nas nossas inseparáveis máscaras, no nosso confinamento prudente e, a esta altura, espera-se, até voluntário.
Não dá para eliminar o medo e o melhor que fazemos é aprender a conviver com ele, sem nos deixarmos submeter. Ou seja, nós o transformamos em cautela e seguimos em frente. O pânico é paralisante.
Fico pensando em como diminuir a tensão em que estamos imersos. Quando, por exemplo, me pego desviando instintivamente das pessoas na rua, se vou cruzar com elas. É uma atitude de proteção, compreensível. Mas e se eu olhar o outro por um momento, sorrir com os olhos mesmo, dizer bom dia? Tenho feito isso e percebo como o retorno é positivo, como a iniciativa traz outro olhar sorridente de volta. E penso como pequenas mudanças de atitudes podem ajudar a enfrentar o pano de fundo de doença e morte.
Tudo fica mais leve quando descobrimos que coisas simples assim podem nos fazer sentir que estamos bem, o quanto é bela a vida. o quanto vale a pena ter motivação para levantar da cama, energia para agir.
A felicidade não está nos objetivos que alcançamos, mas nos meios de vida que criamos para, supostamente, alcançá-los. Sem a ideia de felicidade, não temos mais meios de viver, não temos mais energia para enfrentar as dificuldades de toda vida humana e muito menos as de momentos de crise. A felicidade – sua presença, ou sua memória, ou apenas sua esperança – é uma necessidade. Especialmente na adversidade.