Quantos encontros que você poderia chamar de raros já aconteceram em sua vida? Encontros que evoluem para uma ligação profunda e verdadeira, que ultrapassa o tempo e o espaço? Eu, como todo mundo, tive alguns. E um deles foi com meu pai. Nossa convivência era baseada naquele tipo de afeto em que um releva os defeitos do outro. Nunca me criticou, pode uma coisa assim?
Amizade é também uma forma de amor e meu pai foi, acima de tudo, meu amigo. Ele gostava de me ensinar, desde pequena, a lidar com as dificuldades da vida. Gostava também de me fazer rir . Era intuitivo, inteligente e perspicaz. Filosofava, chegava às suas conclusões e as compartilhava com a família. Eu prestava a maior atenção e guardei com carinho e cuidado inúmeras pérolas do seu pensamento. Neste momento, ao escrever sobre nós, penso: terá meu pai sido meu primeiro terapeuta? Não sei. Meu mentor, certamente foi.
Amigos verdadeiros ficam do nosso lado incondicionalmente. E, mesmo que não concordasse comigo, era lá, do meu lado, que ele sempre estava. Para me acolher. Ouvi outro dia que relação de confiança é quando você não tem medo de errar. Um amigo de verdade é aquela pessoa diante de quem você pode ser você mesmo, sem medo das críticas. Amizade fraterna, sem exigências, sem angústia: meu pai estava junto nos momentos bons de sucesso e chorava junto nas separações.
Faz 15 anos que ele partiu e hoje sei que foi um encontro raro que tive em minha vida, um encontro de almas. Um pai do seu tamanho traz um vazio daqueles que vem para ficar, só com o tempo fui me acostumando a ele, preenchendo-o com a saudade. A saudade não vem logo após a perda, vem com o tempo e substitui o vazio.
Será que tem como viver sem tudo isso? Sim, quando se descobre que as memórias são uma belíssima herança. Hoje, por exemplo, estaremos presentes na celebração da data em torno dos novos pais da família. Risonhos e felizes.