A partir do momento em que conseguimos nos despedir do papel de pais, torna-se mais fácil nos relacionarmos, de forma não intervencionista, com nossos filhos adultos. Os melhores relacionamentos entre pais e filhos nesta fase, encontram-se em famílias onde os pais foram capazes de manter o respeito e a admiração de seus filhos, mas também evoluíram de pais para amigos deles.
Entenda-se por “amigos” algo que tem a ver com afeto profundo, solidariedade e intimidade, acompanhado de respeito à forma de ser de cada um. Não confundir com qualquer tentativa caricata de ser jovem como eles, o que seria uma fuga da realidade do próprio envelhecimento e uma competição, de antemão perdida, claro, com a exuberante juventude de quem está na vez de vivê-la.
Em nosso país, o culto ao novo, subproduto do consumismo amplamente assimilado, se apresenta em sua forma mais crua, sem disfarces ou retoques. Neste caso, as relações humanas em geral são fortemente contaminadas por esta lógica. Assim, o “novo” passa a ser sempre “melhor”, e o que é “velho” não tem valor, devendo ser descartado o quanto antes. Da mesma forma que ser jovem é “o máximo”, “velho” é o diagnóstico para os que “já estão mortos e não desconfiam”… Ou seja, dos que já foram descartados, não contam mais.
O horror a tal “descarte” torna difícil para a maioria de nós tornar-se “amigo” (da forma como foi colocada acima) dos nossos filhos adultos. Muitos de nós acabam por fazer um enorme esforço para parecer-se com eles, usando as mesmas roupas, adotando os mesmos modos e até o mesmo palavreado.
Mas, é preciso insistir, são posturas bem diferentes: uma coisa é aprender a comunicar-se com eles, estar no mesmo mundo, não se alienar, mas continuar a ter seu próprio universo e sentir-se confortável nele. É poder “ficar na sua”. Outra coisa é tentar entrar à força num mundo que não lhe pertence, sem tratar de recriar o seu próprio, ao final do período de criação dos filhos. Pode parecer sutil, mas fará muita, mas muita diferença…
Este texto é uma continuação da série “Filhos Adultos“. Confira o primeiro texto da série “Filhos adultos: como conviver?” e sua continuação “Filhos Adultos: Convivendo com as diferenças“