É interessante notar que é equivocada a ideia de que para se viver junto e bem é necessário erradicar o conflito. Na verdade, basta saber transformar a violência em conflito. Esta compreensão vai nos ajudar em inúmeras situações da vida cotidiana: para que qualquer conflito evolua de maneira favorável, é preciso criar um clima de confiança dentro do qual os opositores sintam que poderão dizer o que pensam sem medo de serem agredidos. Este clima resultará de nossa postura; ela deve exprimir nosso desejo de manter a relação e nossa intenção de não virar as costas ao outro, de não desvalorizá-lo nem agredi-lo em plena discussão. Tudo se resume na atitude que adotamos, que precisa deixar o outro saber que o respeitamos, a despeito de estarmos em desacordo. Sem isso, a confiança não se instala e a violência prevalece, já que continuamos a ver no outro um incapaz, um imbecil e… vice- versa, obviamente.
Esta sequência de atitudes necessárias para se engajar com o outro de forma construtiva numa discussão deveria ser algo simples, mas não é. Estar em desacordo quando se ama a pessoa e se tem o desejo verdadeiro de encontrar uma solução costuma ser bem mais fácil. Difícil é quando a violência já está instalada, quando a crise já dura e o silêncio já separa. Nesse caso, tudo mudou e trata-se de restaurar o diálogo com quem agora enxergamos como inimigo, dentro de uma situação desesperadora para ambos. Esforçar-se por abrir mão de estar em primeiro lugar no confronto nos ajuda a deixar de fugir do outro para ir ao seu encontro. E aí descobrir em si a coragem para engajar-se, comprometer-se com a discussão. Aceitar que estejamos lá naquele momento, com nossa raiva, nosso desespero e confusão, nossa impotência e desamparo.