Ultimamente reparo que as pessoas estão cada vez mais abandonadas aos seus próprios recursos, ou seja, às suas próprias percepções e perspicácia. Cada vez temos mais especialistas em uma infinidade de assuntos mas, com frequência, somos nós quem vamos precisar encontrar a melhor solução para nosso caso, com nossas habilidades, intuições e recursos particulares. E pouco (ou nenhum) conhecimento específico.
Na minha observação, anda difícil encontrar um bom profissional, daqueles que faríamos o que ele nos recomendasse, sem pestanejar. Cada vez mais, quando consultamos um profissional, nós é que temos de usar o bom senso a nosso favor. Isso porque, com frequência, a maioria das pessoas demonstra estar pensando no seu próprio lado. Difícil lidar com tamanha sensação de desamparo, é ou não é?
Se passamos por uma experiência onde fomos prejudicados por confiar demais, é preciso estar preparado para uma certa indiferença ao seu redor, quase que uma crítica por você não ter sido esperto o suficiente para perceber e evitar o golpe. Parece que você foi vítima, praticamente, porque quis. Ouviremos: “Você não viu isso antes? Não fez isso ou aquilo?”. Poucos se solidarizarão.
A questão que estamos comentando diz respeito à confiança no outro. Ela passa por uma crise, e de repente é como se o “mal” pudesse estar oculto em qualquer lugar. Por não conseguirmos a empatia do outro, este “mal” passa a poder nos atingir a qualquer momento. Ele vem das procedências mais inesperadas, até mesmo das nossas mais insuspeitas relações. Tamanha crise de confiança não é uma boa notícia para as relações humanas em geral. Elas já deixaram de ser os espaços de certeza, tranquilidade e conforto emocional que costumavam ser.
Em vez disso, com a diluição das normas reguladoras dos deveres e obrigações mútuos, mais e mais relacionamentos tornam-se fontes de ansiedade constante e de estado de alerta permanente. Que desconforto!
E tem horas que a gente se pergunta se sempre foi assim, de tão distante que parece o tal tempo em que era fácil e garantido confiar… Existiu mesmo, e eu estava lá?