Separação e isolamento social

A Dois
26.maio.2015

São muitas as mudanças que ocorrem na vida de alguém que passa por uma separação conjugal. O que dizer do isolamento social que é, em geral, imposto aos que se separam? Tal situação, corriqueira como a própria separação, gera um sofrimento intenso de início: as pessoas não tem ideia, enquanto passam por isso, de que se trata de uma simples e momentânea fase da vida.

Logo após a separação, a tendência natural, mas que a maioria talvez desconheça, é de se perder muitos dos amigos que se tinha quando se era casado. O círculo social do qual o casal participava se rompe em vários pontos, sem que se possa evitar. Quando uma relação conjugal termina, os ex-cônjuges, aos poucos, vão sendo isolados do grupo a que pertenciam. É comum os antigos casais passarem a não se sentir mais à vontade perto dos que “mudam de categoria” e passam de casados a descasados. É como se não fossem mais todos parte do mesmo grupo, e isso vai ficando mais e mais presente com o passar do tempo.

A separação é um evento fortemente polarizador e desencadeia inúmeras emoções nas pessoas com as quais o casal original costumava conviver. Os amigos tendem a defender um ou outro dos cônjuges, muito raramente os dois. Assim, um verdadeiro inventário de amigos ocorre de forma espontânea, ou seja, perdem-se de vista muitas pessoas que ficaram “do lado” do/a ex.

Além do mais, existe a fantasia de que “se aconteceu com você, pode acontecer comigo também”. A separação de um casal é uma imagem viva e desconfortável para muitos casamentos no entorno que ainda se mantém de pé, mas que internamente já se encontram em crise, muitas vezes irreversível.  E ninguém quer ter perto de si a imagem daquilo que, no íntimo, teme. Assim, aos poucos, quem se separou começa a perceber que sua problemática só pode ser compreendida por aqueles que viveram também a experiência da separação. Os que não passaram por isso, por sua vez, tampouco estão interessados em compreendê-la.

Uma separação é capaz de atingir profundamente o “eu” de quem passa por ela, chegando a transformá-lo em alguns pontos. Com a alteração de antigos pontos de vista, quem se separa passa a enfrentar seus problemas com referenciais diferentes dos que lhe norteavam antes. Torna-se alguém que evolui agora de forma mais crítica e independente e, de certa forma, uma pessoa “incômoda”.

O preço a pagar por tudo isso é ter o sentimento de solidão inerente à condição da separação aguçado, por não ser mesmo mais parte integrante do ambiente social a que estava acostumado. Os novamente solteiros se veem então diante de uma árdua tarefa: restabelecer as coordenadas culturais, sociais e emocionais através das quais seguirão vivendo. Tudo isso, é claro, de preferência, com o menor sofrimento possível.

É por isso que, na memória de quem já se separou, separações funcionam como verdadeiros marcos divisores de vida. Não é para menos, não é?

assinatura_simone

 

Artigos relacionados

13 nov

Jovens, expectativas e esperanças

Muitas vezes falamos em “esperança” e, na realidade, estamos pensando em “expectativa”. Como entender as linhas mais ou menos sutis que separam os dois sentimentos? Podemos começar lembrando, por exemplo, que a expectativa ocorrerá toda vez que depositarmos em alguém a responsabilidade por nossa satisfação ou felicidade. Esse tipo de sentimento, é claro, não pode […]

  • 1542
A Dois
12 jan

O ciúme e o amor, ontem e hoje

Já reparou que, hoje em dia, o ciúme é um sentimento que anda banido, sendo quase proibido mencioná-lo? Se alguém o faz, passa uma ideia de atrasado, primitivo e politicamente incorreto. Na melhor das hipóteses, a menção ao ciúme soa inadequada, indicando no mínimo falta de bom gosto. No pior dos cenários, dá a impressão […]

  • 2131
A Dois
28 ago

Passar a limpo as relações

Há muito não acredito que uma relação longa consiga sobreviver forte de verdade, se não tiver sido “passada a limpo” algumas vezes ao longo dos anos. Num casal, em família, nos laços de amizade, o conflito é, antes de tudo, um sinal de envolvimento e compromisso: briga-se para ajustar as diferenças, para avançar e progredir. […]

  • 1624
A Dois