A confiança nos encontros da vida

Comportamento
31.mar.2021

Quando pensamos em autoconfiança, supomos que, com ela, somos capazes de agir, tomar atitudes. O que não pensamos é que a confiança em si é algo que se adquire, não se nasce com ela. Como descobrir nossos recursos e talentos, sem colocá-los à prova? Sempre será necessária uma primeira vez, bem como alguns primeiros passos e alguns fracassos, seguidos de sucesso, para progressivamente ganharmos confiança.

A confiança se desenvolve a partir da ação, concordam psicólogos, professores, teóricos da psicologia positiva e outros estudiosos do comportamento humano. Mas que fique claro que esta “confiança em um si” é, na verdade, uma confiança no encontro entre alguém e o mundo. Um encontro que nós não controlamos e que nos reservará surpresas, mas que será forçosamente rico em ensinamentos. Através de nossas ações, descobrimos no plano real oportunidades e recursos que até então desconhecíamos. Ocorre que, ao agir, vamos ao encontro dos outros e a solução vem desse encontro, quando algo se revela finalmente mais simples. Não é então somente em “si” que se trata de adquirir a tal confiança e sim, no encontro entre os outros e si, ou entre o mundo e si.

Existem coisas que dependem de nós e outras que não dependem. Ter confiança em si significa ter também confiança no que não depende de nós, mas que nossa ação pode por em movimento. Com frequência, quando nos colocamos sob pressão excessiva, fazemos uma ideia errada das coisas, pressupondo que tudo depende de nós.

Nesses momentos, a título de inspiração, que tal pensarmos nos homens e nas mulheres de ação, nos aventureiros, nos pioneiros, ou nos empreendedores? Mesmo que reflitam longamente antes de se lançar em seu desafio, eles confiam na sua ação em si, no que ela vai mexer com a realidade, direta ou indiretamente. Eles sabem que suas ações terão o poder de reconfigurar seu mundo, de criar oportunidades e que será preciso saber aproveitá-las. Mesmo tentando dominar ao máximo possível o que depende deles, eles sabem o peso do que não depende, que poderá surgir tanto como obstáculo, como ajuda. Estão prontos para isso. Elaboraram um itinerário o mais detalhado possível, ou o mais preciso plano de negócios. Mas sabem que as ações modificarão os parâmetros, e que será preciso mudar de rota algumas vezes, para evitar alguma “tempestade” ou aproveitar um tempo de maior calmaria. Sabem que irão lançar um novo produto corrigindo as falhas do anterior ou, ao contrário, apostar no que acaba de ser lançado. Em resumo, sabem que terão de ficar à escuta dos outros e do mundo. E este é o verdadeiro espírito do empreendedor: saber prever, amar prever, mas amar também a parte imprevisível que existem na situação.

Agir é convidar-se a sair de si na existência, em vez de se convencer de que a essência de seu valor está contida apenas em si, é convidar-se a se divertir na festa, em vez de se retirar. Se pensarmos um pouco, é preciso mais do que a chamada confiança em nós mesmos, apenas: é preciso ter confiança em tudo que nossas ações são capazes de criar, ao nos oferecer um ponto de contato com o mundo. Tenhamos, portanto, confiança na realidade que nossas ações já estão modificando e nas chances que nossas ações podem produzir. Tenhamos confiança nos homens e mulheres que encontraremos e que nos trarão ideias, conselhos, esperanças, e, porque não, amor.

 

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