A curiosidade e o riso: segredos de jovialidade

Comportamento
13.jan.2021

Todos os dias, descompromissadas, lembranças surgem em nossa mente partindo de inúmeros e diferentes caminhos. Entre as recordações agradáveis que nos permitimos estão as que experimentamos ao lado de pessoas queridas, que por algum motivo não temos mais contato. Hoje mesmo me lembrei de um antigo professor, de mente muito aberta e criativa, bem humorado, que a cada dia se entusiasmava por uma novidade, fosse uma notícia, uma crônica de jornal ou um evento inesperado. Volta e meia costuma sair-se com frases inspiradoras, frutos de uma capacidade reflexiva especial. Como a frase que adorava repetir e que hoje me traz este texto : “ A curiosidade é o segredo da juventude”.

Embora a curiosidade pareça estar relacionada, em parte, ao nosso temperamento, há indícios de que ela também depende do espaço deixado na mente para o improviso e a criatividade ao longo do período em que fomos educados. Dentro de uma família, a curiosidade pode surgir de forma espontânea, se a experiência da troca entre as pessoas é rica e intensa. Nesse caso, há um  aumento da curiosidade em torno de praticamente tudo.

Já ouvi, também, que adultos seriam mais felizes se tivessem a possibilidade de resgatar, na idade adulta, o lado lúdico da vida. O problema é que, na fase adulta, muitos resistem a permitir que o dia adia se torne mais divertido, julgando imaturos os que possuem um riso mais fácil. Como a vontade de brincar, na vida adulta, é substituída pela necessidade de produzir, parar momentaneamente a produção para dar umas risadas pode  parecer um grande desperdício de tempo.

Curiosidade e diversão, entretanto, andam muito juntas em diferentes situações do dia a dia, até mesmo em conversas e reuniões  no trabalho. Brincadeiras aguçam a curiosidade, seja nas crianças ou nos adultos e trazem consigo o entusiasmo pela descoberta e a inspiração para avançar.  Na criança, é brincando que se aprende a fazer contato com o outro. No adulto, incluir o lúdico no cotidiano torna tudo mais leve, sem perder a consistência do que se faz.

Ao permitirmos mais curiosidade e diversão em nossa vida, redescobrimos um pedaço saboroso da adolescência. Existe coisa melhor do que, como fazem os adolescentes, conversar dando risadas, rindo de si mesmos, em grupo, ou mesmo uns dos outros?  Adolescentes costumam ser muito divertidos, com suas brincadeiras criativas e cheias de humor, os trocadilhos, as piadas feitas com inteligência, o pensamento ágil, as respostas rápidas, o humor sutil. E, acima de tudo, o riso fácil, sempre pronto a pontuar a conversa. Riem de tudo, os adolescentes , com sua bagagem de sofrimento ainda leve, e o coração cheio da certeza de que “nada do que vejo de ruim me importa, comigo vai ser diferente, eu vou ser muito feliz!”

Em alguns grupos masculinos adultos,  este tipo de humor permanece: brincalhões, homens conseguem ao mesmo tempo ser produtivos e muito engraçados, rápidos e inteligentes. Eternos meninões, trazem à tona seu lado lúdico mais facilmente do que as mulheres que, em geral tensas pela auto cobrança e com certo medo das ironias as atingirem, preferem assistir à farra masculina do que “entrar na roda”.

O fato é que somos todos diferentes, no macro e no micro universos. Alguns dentre nós gostariam de participar da rodinha de adolescentes, não para tentar ser mais um deles, mas para interagir, tomar pé das tendências do momento, aprender novos códigos de linguagem. Outros preferem manter distância cautelosa, acham tudo isso meio enfadonho e sem propósito, talvez pelo simples fato de ser diferente do que conhecem. Daí perdem a chance da jovialidade. Que não nos é dada, mas antes resulta de nossos hábitos e de nossa maneira de encarar os jovens. Se deixamos para trás a curiosidade de saber como anda evoluindo o mundo e os excluímos de nosso universo, de forma concreta ou como referência, vai ficando mais difícil nos mantermos joviais. Envelhecemos nossa cabeça, às vezes, muito antes de nossa decadência física.

Hoje, posso repetir a frase que ouvi tantas vezes porque concordo com ela. E você, diria também que a curiosidade é um caminho para conservar a jovialidade?

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