A ditadura do permanecer jovem

Mulher
22.maio.2018

Fala-se muito em envelhecimento, já que nunca tantos viveram tanto. Como a tendência é aumentar o número de idosos cada vez mais, as mudanças que teremos em nossa sociedade tem instigado muitos a pensar. Até aqui, o que temos visto é uma sociedade que continua impondo, mesmo aos que adentram a “velhice”, padrões de beleza e de peso ideais e, sobretudo, uma imagem intensamente ligada à juventude e ao dinamismo. É a ditadura do “permanecer jovem”,  que se espalha por toda parte, presente em tantos anúncios.

Diante disso, tratamos de fazer o melhor que podemos para não apresentar um “ar envelhecido”: já que não contamos com um recurso para ficar eternamente jovens, temos que, ao menos, continuar parecendo jovens. Os esforços valem para homens e mulheres, que andam mudando a alimentação, passando a fazer exercícios e, se possível, aderindo a métodos de rejuvenescimento que estejam ao seu alcance.

O lado positivo dessa transformação intensa é que tudo isso acaba mesmo contribuindo para melhores condições de saúde na velhice. Mas tem o outro lado: parece que é quase impossível envelhecer em paz, tal a pressão do pensamento dominante. As pessoas se sentem temerosas de dizer sua idade e serem descartadas socialmente. E os raros que vencem o embaraço e declaram sua idade real, o fazem na esperança de ouvir de volta: “nossa, mas não parece”…

No íntimo de quem vivencia este processo, porém, existe a noção de que, apesar de podermos até parecer muito joviais e bacaninhas, estamos envelhecendo. Alguns passam a rejeitar os próprios aniversários e a se sentirem ligeiramente reconfortados ao cumprimentar os amigos nos deles. Afinal, é nesses momentos que nos lembramos de que estamos todos nos mesmo barco…

Mas será que não poderíamos simplesmente aprender a lidar melhor com essa fase da vida? Para isso, a primeira coisa a fazer seria perder o medo de ir contra a tal “ditadura” e aceitar, com naturalidade, o fato de estarmos, sim, envelhecendo.  Não valerá mais fazer de conta que nada nos acontece, é preciso admitir internamente, e por inteiro, a nova realidade. Isto é que vai nos permitir planejar melhor esta nova etapa de vida.

Criar uma rotina interessante é a meta primeira. Escolher fazer somente o que nos agrada vai ajudar muito nessa reestruturação de vida. A possibilidade de fazermos as escolhas que consideramos as melhores para nós, com liberdade, é uma valiosa característica desta fase, quando a satisfação à sociedade passa a ter menos valor.

Privilegiar a família e os amigos é fundamental e, acredite ou não, muito mais importante do que parecer jovem. Relações afetivas vão ser o mais precioso alimento nessa fase da vida. Evitar o isolamento, encontrar novos espaços de convivência, estar em contato com amigos e familiares queridos, é isso que fará toda a diferença.

A mola maior da sobrevivência, a chave de tudo, entretanto, parece ser a capacidade de estruturar novos projetos: sem novos planos, a vida tende a parar. Projetos pessoais ou profissionais, de aprender coisas novas, de comunicar-se mais e melhor com os outros, são verdadeiros deveres de casa para os que pretendem “envelhecer bem”.

E envelhecer bem, até que a saúde decida nos abandonar, passou a ser uma questão de escolha e determinação pessoal. É preciso transformar este desejo em meta, sair da idealização superficial e enganosa do envelhecimento, que anúncios de seguro de saúde tentam nos vender, cheios de sorrisos de modelos da “melhor idade”. Se conseguirmos combater nosso medo e começarmos a pensar efetivamente sobre o que podemos fazer a respeito da velhice, estaremos nos possibilitando a criação de novos desfechos para nossa história. Não são boas notícias??

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