Algumas categorias sociais sempre sofreram com a invisibilidade. Empregados domésticos ainda são excluídos do campo visual das pessoas, que falam na presença deles como se eles não existissem. Em outro tempo, crianças recebiam o mesmo tratamento: não existiam, no sentido de que lhes faltava o caráter de humanos, com capacidade própria de ouvir, entender, formar opiniões, sentir. E, até segunda ordem, hoje são os velhos que habitam esta desconfortável casa no sistema social. Será verdade?
Sim. Assistimos com bastante frequência à exclusão dos mais velhos no seio da família ocorrer de forma gradual, dentro de um processo. Como a pessoa idosa vai aos poucos processando as informações que recebe de forma mais lenta, vai tendo dificuldade em acompanhar as conversas. Passa a ficar mais calada, pouco opinando, retraindo-se na sua solidão bem ali, no meio daqueles que lhe são mais caros. Estes, por sua vez, muitas vezes não tem nem a empatia necessária para detectar a mudança, nem a boa vontade de fazer um esforço para mudar o rumo da conversa e dar a oportunidade de participação aos mais velhos.
Conviver com idosos requer uma disposição grande de deixar seu próprio mundo para entrar no do outro ou no que é possível a ele. A isso poderíamos dar o nome de empatia que, de forma simples, se traduz por um acolhimento verdadeiro do idoso na família e no seu ambiente social.
E assim seguem-se as reuniões familiares, em que os mais jovens vão tomando o espaço com suas histórias, brincadeiras e risadas, e os mais velhos assistem, quietinhos… Até que chega um dia em que o idoso se rebela. Sem maiores explicações, passa a não querer ir mais às reuniões familiares. Aquelas onde ele fazia só figuração. Prefere ficar em casa, em paz no seu canto. A família, sem entender, protesta e passa a reclamar que os idosos estão se tornando pessoas “difíceis” de lidar. Ninguém reparou no que vinha acontecendo há tempos.
Hoje, praticamente todas as famílias tem pessoas envelhecendo em seu núcleo. É preciso prestarmos atenção ao sofrimento dos que envelhecem perto de nós. Permanecer inserido no contexto familiar deveria ser o mínimo para um idoso sentir-se com a dignidade mantida. Mas mesmo este mínimo requer amorosidade e compaixão, além da disposição para mudar o cenário, também conhecido como “a ordem natural das coisas”. Hoje são eles, amanhã seremos nós.