Você já se deteve a pensar um pouco sobre o sentimento de gratidão? Dela já se disse que é “a mais agradável das virtudes”, mas também, já vamos adiantando, é das mais raras. Um dos sentimentos mais evoluídos do ser humano, tem uma estruturação, de certa forma, um pouco complicada: para ser grato a alguém, é preciso que se admita ter recebido algo deste alguém. Isto significa admitir também que o outro tinha algo que lhe faltava, ou seja, tinha a mais do que quem recebe. Conclusão: para experimentar a gratidão, vai ser preciso ultrapassar a inveja, que chega com tudo nesta hora, disposta a anular o que se recebeu. Não tendo recebido nada, não há o que agradecer, não é?
Existe um mérito em sentir gratidão, pois ela, por si, nada tem a oferecer, a não ser o prazer de ter recebido. Prazer de receber, alegria pelo prazer que se sente, tudo faz parte da gratidão, que retribui pelo agradecimento. Já a ingratidão põe em evidência, além da incapacidade de retribuir, sob a forma de amor, um pouco da alegria experimentada, também a incapacidade de receber.
A gratidão, entre tantas coisa, anda rara. É a força do “narcisismo” dos nossos dias que explica a raridade da gratidão. Como não seria alguém grato, se só sabe amar a si, admirar a si, celebrar a si?
A gratidão é muitas vezes confundida com uma retribuição de cortesias. Só que trocar um favor por outro não tem a ver necessariamente com gratidão, muitas vezes é só troca, mesmo. Gratidão também não é aquela espécie de reconhecimento falso, de quem só agradece para obter mais. Nesse caso é lisonja e vem, muitas vezes, acompanhada de mal disfarçada servilidade. Na gratidão, existe um alegria humilde, de quem agradece porque sabe que é bom agradecer, antes de saber a quem ou como. A gratidão se regozija com o que aconteceu!
A psicanálise postula, de forma muito interessante, que é a satisfação de um bebê que forma a base da gratidão. Ela teria suas raízes nas emoções e atitudes que surgem no mais primitivo estágio da infância, quando, para o bebê, a mãe constitui o único e exclusivo “objeto”. Ao se sentir plenamente atendido em sua necessidade de mamar, o bebê sentiria ter recebido do objeto amado uma espécie de presente exclusivo , que deseja manter consigo.
Esta passaria a ser a base da gratidão, que fundamenta também a apreciação da bondade nos outros e em si próprio: a gratidão está muito estreitamente vinculada à confiança em figuras boas. E, quanto mais amiúde a gratificação é experimentada pelo bebê, com mais frequência o desejo de retribuir o prazer proporcionado seria sentido. Tal experiência recorrente é que tornaria possível a gratidão futura no adulto.
Segundo ainda a psicanálise, a gratidão está estreitamente ligada à generosidade. A riqueza interna proporcionada pela generosidade derivaria de se ter conseguido assimilar o “objeto bom” de tal forma que nos tornamos capazes de compartilhar nossos dons com outros, por adquirirmos a percepção de um mundo mais amistoso e confiável.
Bonitas considerações fizeram os estudiosos, não é? E você, o que pensa da gratidão?