A partir do momento em que conseguimos nos despedir do papel de pais, torna-se mais fácil nos relacionarmos, de forma não intervencionista, com nossos filhos adultos. Os melhores relacionamentos entre pais e filhos encontram-se nas famílias em que os pais foram capazes de manter o respeito e a admiração de seus filhos e puderam evoluir de pais para amigos. Não “amigos” de forma caricata, tentando usar as mesmas roupas, adotar os mesmos modos ou o mesmo palavreado. Este esforço para parecer-se com eles, ser jovens como eles, seria apenas uma fuga da realidade do próprio envelhecimento. Falamos da amizade baseada numa relação de afeto profundo, solidariedade, intimidade e respeito à forma de ser de cada um, de parte a parte. Conviver com filhos crescidos pode ser muito bom, e é possível.
Algumas famílias conseguem evoluir e simplesmente crescer junto com seus filhos, começando por assimilar aos poucos as novidades trazidas por eles. Crescendo próximos aos pais, os filhos já absorveram múltiplas lições de como lidar com a própria existência. Na sequência da vida, vão surgindo outras interações e o acesso a novas influências, agora externas à família. São elas que permitirão melhorar, adotar, adaptar ou descartar parte do aprendizado básico familiar. Os pais, aos poucos, aprendem a apreciar novas ideias junto com os filhos, em vez de tentar impor-lhes uma única forma de pensar. Até que surge um momento em que são os pais que começam a aprender e a crescer com os filhos. Pais e mães que estão em dia com os acontecimentos mundiais tornam-se naturalmente mais aptos a lidar com o mundo em que seus filhos adultos transitam, porque é o mundo deles também. Em contraste, os que se mantém isolados do resto do mundo, esperando o tempo passar, vão encontrar cada vez mais dificuldades em conviver com seus filhos adultos.
Nas famílias em que a relação com os filhos adultos é mais difícil, é comum haver uma competição interna. Para que um bom relacionamento com filhos adultos aconteça, entretanto, é essencial que os pais estejam preparados para adotar uma postura não competitiva, abrindo mão de ter a última palavra a respeito de tudo. Empatizar, apreciar com otimismo as novas ideias, ser flexível, ao invés de julgar e desencorajar tudo com pessimismo faz toda a diferença. E tudo fica mais fácil quando os pais entendem que o trabalho de educar, ensinar e transmitir valores já foi feito. E que agora passa a ser tempo de curtir estar com essas “versões mais novas” de nós mesmos, edições revistas e ampliadas, com suas interessantes características próprias.
E, vamos deixar claro: ao final do longo período do “projeto criar filhos”, é fundamental que os pais recriem suas vidas, buscando novas perspectivas para si. Uma nova temporada da existência se aproxima e é preciso afastar os próprios preconceitos em relação a envelhecer. Uma coisa é aprender a comunicar-se com seus filhos adultos, estar no mesmo mundo, mas continuando a ter o seu próprio universo e sentindo-se confortável nele. Outra, é tentar entrar à força num mundo que não lhe pertence, sem tratar de recriar o seu próprio, ao final das décadas de criação dos filhos.