Ter consciência de valores e limites ajuda-nos a viver de forma confortável conosco e com os outros. Denegrir-se ou mesmo ter dificuldades em receber elogios pode, por vezes, dar a impressão de humildade, mas mais provavelmente será a expressão de uma falta de apreço por si próprio. Na humildade verdadeira, talentos e qualidades não são nem inflados nem diminuídos. As falhas não são fonte de desvalorização. Para isso, é preciso estar seguro de seu valor pessoal, o que pressupõe tratar-se de alguém que não foi nem negligenciado ou maltratado afetivamente, nem amado incondicionalmente demais.
A grande força da humildade é que ela dispensa a necessidade de se iludir ou iludir os outros. Ela nos leva a admitir nossos erros, a aprender com eles, a reconhecer e a respeitar as qualidades e as contribuições dos outros, sem que nos sintamos diminuídos. Como é mais profunda e mais constante do que a modéstia, a humildade é menos suscetível de se deixar vencer pela pressão das circunstâncias. Se é possível fingir ou fazer de conta que se é modesto, a humildade já demanda um terreno mais complexo para se construir: ela só se erguerá sobre uma consciência de si o mais lúcida e humanitária possível. Nesse ponto, o fato de podermos nos dizer e aos outros: “eu não sei” ajuda muito, já que nossa ignorância funciona como um motor para seguirmos aprendendo até o fim.
Em um de seus artigos, o psicólogo americano Christopher Peterson resume sabiamente a diferença entre a humildade e a falta de consideração de si: “a humildade não é de se pensar ser menos que alguém, mas de pensar menos em si.” Acreditar que estamos sempre em posição de aprender, de progredir, de nos melhorar como seres humanos, a mim parece ser esta a verdadeira humildade.
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