Adolescentes e a conquista da autonomia

Filhos
18.dez.2018

Adultos, em geral, sabem que a capacidade de agir por si mesmo, de fazer escolhas e de assumi-las, é conquistada ao final de um longo processo de aprendizado. Como ajudar o adolescente, que se encontra em pleno processo de aquisição deste conhecimento?  Os pais ficam cheios de dúvidas em relação a qual conduta adotar: seria melhor deixar seu adolescente em rota livre ou, quem sabe, tomar a frente e agir em seu lugar, pensando que “pelo exemplo ele aprende”? Como a medida certa é difícil de se encontrar, não é?

A autonomia começa pelas pequenas experiências, coisas simples, mas de muito valor no aprendizado, como administrar uma mesada e ter alguma responsabilidade doméstica. Pequenas coisas devem ser demandadas como uma contribuição ao bom andamento da casa, seja arrumar o quarto ou passear com o cachorro. Pais precisam estar atentos para não serem críticos demais ou ter atitudes excessivamente protetoras, devido aos seus próprios medos. É claro que, no caminho, o adolescente vai cometer erros. E daí? Se aceitarmos suas tentativas e evitarmos críticas desnecessárias, eles se desenvolverão muito melhor. É preciso lhes deixar a possibilidade de aprender com seus erros, de mobilizar e desenvolver seus potenciais, de se responsabilizar. Senão, como ter a coragem de ousar e de se sentir capaz?

Dividido entre a busca por autonomia e o medo do desconhecido, o adolescente tem que gerenciar, ao mesmo tempo, sua necessidade de distância e sua dependência dos pais, relacionando-se continuamente com eles.  Para os pais, afrouxar as rédeas é importante, mas a liberdade total é angustiante para o jovem. O melhor a fazer é adotar uma postura de copiloto: estar ao lado, pronto para ajudar os filhos a compreender e a corrigir seus erros. Isso lhes dará um grande impulso, num momento em que estiverem lutando para avançar.

Estabelecer regras ou limites estrutura o adolescente, embora elas não devam ser nem rígidas nem arbitrárias. O “é assim e acabou” é contraproducente. Por outro lado, envolver o adolescente na procura por soluções lhe permitirá desenvolver competências essenciais para a autonomia, como o respeito pelo compromisso e a iniciativa para resolver problemas. É bom lembrar que, acima de tudo o que falarmos, será preciso dar provas de nossa coerência: as regras que impusermos, teremos de também respeitá-las. Caso contrário, ficaremos sem nossa credibilidade e, o jovem, sem as indispensáveis referências. Em situações em que as regras forem infringidas, sanções podem ser aplicadas, desde que tenham sido previamente anunciadas, que estejam relacionadas com o problema e que não sejam desmedidas. Mostrar firmeza e consistência a longo prazo é sem dúvida o ponto mais difícil, mas é o mais importante também.

Os jovens costumam escutar com mais boa vontade quando se sentem também ouvidos. Quanto mais o adolescente se sentir amado, melhor ele evoluirá. Encoraja-los a criar projetos, sem lhes contagiar com nossos próprios desejos, fortalecerá sua autoestima e os estimulará a ousar. Interessar-se por seus gostos (filmes, músicas) pedir-lhes ajuda em coisas que eles entendem melhor que nós ( fazer qualquer coisa na internet, por exemplo) lhes demonstra o interesse que temos por eles e os valoriza.

Por fim, vamos lembrar que acompanhá-los em sua autonomia é também ajudá-los a desejar construir uma vida de adultos. Cabe a nós mostrar-lhes como amamos viver, comentar sobre nosso cotidiano, sobre obstáculos e soluções encontradas, com naturalidade e sem se queixar o tempo todo.

Parece simples? Pois acredite: isso faz toda a diferença!

Artigos relacionados

11 fev

A consagração do “ficar”

Às vezes assistimos à consolidação de um determinado comportamento que foi se generalizando sem que nos déssemos conta e, em dado momento, achamos estranho ele estar ali, estabelecido como se sempre tivesse estado. Aí, nos indagamos como aquele movimento surgiu, como ele chegou àquele ponto, àquele lugar e o não acompanhamos? Com o ficar foi […]

  • 1083
Filhos
24 jul

O gostoso resgate da intimidade nas famílias

A convivência dentro das famílias e mais especificamente entre pais e filhos costumava ser, até o recente advento das mídias, a escola do companheirismo humano, da riqueza espiritual, emocional e da proximidade física. Hoje, o que se vem tendo mais e mais, é a substituição da intimidade verdadeira pelos tipos de “contato” em voga. Até […]

  • 1439
Filhos
20 jan

Educação: liberalidade ou comodismo?

Educar os filhos de verdade é um trabalho contínuo e bastante cansativo, que consome muitos anos de dedicação dos pais. Exige que se esteja genuinamente atento ao que se passa com eles e que permita acompanhá-los a uma certa distância, estando porém sempre prontos a intervir, se necessário. Fala-se muito atualmente em não interferir na […]

  • 1871
Filhos