A alegria com os netos

Filhos
27.jan.2021

Dia desses estive com um amigo que me contava, os olhos a brilhar de alegria, as últimas peripécias dos netos. Dávamos risada em meio às várias fotos das crianças que ele me mostrava em seu celular, enquanto eu pensava, contente, em como meu amigo estava mudado. Homem dado ao silêncio e à parcimônia em relação à sua vida pessoal, eu o olhava pensando no quanto ele havia se tornado uma pessoa mais alegre e falante de sua vida familiar, hoje animada e rica.

A certa altura, entretanto, ele me confidenciou, com uma ponta de tristeza no olhar: “eu fui um pai medíocre”. E pôs-se a contar como costumava, no passado, não dar bola para o dia a dia de seus três filhos, fechando-se sempre na redoma da carreira. Chegava em casa após um dia de trabalho e corria ávido para os jornais que não pudera ler de manhã. Escuto e penso como os filhos, em nossa geração, não eram um “departamento masculino,” mesmo para as mulheres que tivessem suas próprias carreiras, como foi o meu caso e o da mulher desse meu amigo.

Enquanto o ouço, ponho-me a pensar em quantas mulheres, ao longo da minha história profissional, acompanhei de perto. Muitas tiveram de aprender a lidar com várias mudanças inesperadas nesses papéis pré estabelecidos, inclusive casos de maridos que decidiram se ausentar da vida dos filhos após a separação – uma realidade não incomum em nossa geração. Em contrapartida, conheci também alguns homens que se esforçaram para criar seus filhos sozinhos, por viuvez ou situações diversas. Fato é que fizemos todos o que podíamos, uns se saíram melhor e outros pior, não nos cabe julgarmos uns aos outros.

Acredito, com firmeza, que o propósito maior de nossas vidas seja tentarmos nos melhorar como pessoas, de alguma forma. A ideia que tenho da existência humana é que, ao examinarmos nossa trajetória do ponto de vista da maturidade, nossa impressão seja de que poderíamos ter feito um pouco melhor. Imagino que esta seja a ordem natural das coisas,  já que uma das preciosidades da vida está justamente na possibilidade de evoluirmos, até o nosso último dia de lucidez. Sempre há tempo para irmos melhorando.

Por tudo isso é que digo hoje uma palavra que não disse ao meu amigo quando o vi: que coisa boa podermos refletir! E pergunto: que mudanças extraordinárias você e muitos vêm promovendo nas relações com seus filhos e netos, desde tantas “medíocres” paternidades? Inúmeras, com certeza.

É fascinante ver a sequência da vida: ciclos se encerram e se renovam. Nossa segunda chance de parentalidade é agora, com nossos netos e também com nossos filhos. E a alegria de meus amigos avós me sinaliza que este está sendo, em geral, um ciclo muito bem vivido.  Aproveitemos, então…

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