Volta e meia ouvimos falar da singularidade, ou seja, da natureza única de alguém. Do que falamos nesses casos, exatamente? Uma maneira de se definir a singularidade seria afirmar que se trata do conjunto das características de alguém que, digamos assim, não ficam no “particular” e estão mais para algo que se aproxima do “universal”.
Parece complicado? Vamos exemplificar: podemos dizer que os gênios, em todas as frentes, sejam artísticas ou da ciência, são autores singulares, não é? Pois, mesmo enraizados em sua cultura de origem e em sua época, conseguem tocar os homens e mulheres de todos os tempos, através da universalidade de suas obras. É por isso que ainda nos deslumbramos diante dos grandes autores literários, de tantas obras de arte e de inúmeros monumentos: podem não ter a ver com nossa cultura, mas nos emocionam da mesma forma. E é dessa forma que criações absolutamente particulares enriquecem o mundo.
A noção de singularidade está ligada diretamente ao fato de que, quanto mais saímos de nós mesmos para entender o outro, ou quanto mais alargamos o campo de nossas experiências pessoais, mais nos tornamos singulares. Ao ultrapassarmos as limitações de nossas condições individuais de origem, vamos conseguir nos aproximar, de forma cada vez mais ampla e rica, das perspectivas de outros, quaisquer que sejam.
O outro ponto importante para se entender nossa singularidade é que não são os atributos inatos que nos tornam singulares, mas sim a maneira como lidamos com esses atributos e o encaminhamento único que lhes damos: eles são algumas de nossas matérias primas, nós seremos sempre o produto final.
Vamos então ao amor: podemos dizer que, ao menos de início, amamos mais certas características de uma pessoa: sua beleza, energia e disposição, por exemplo. Se ficarmos apenas em atributos desta ordem, é fácil imaginar que um dia teremos grande chance de deixar de amar tal pessoa. Porque, sendo atributos perecíveis, a certa altura vamos todos nos ver já não sendo os mesmos: ele/a talvez seja inteiramente outro/a, e eu, quem sabe, ainda o/a ame, mas da forma que costumava ser quando nos conhecemos.
E assim descobrimos que, em vez de ter amado em alguém o que considerávamos algo único, apegamo-nos apenas a atributos que não são próprios desta ou daquela pessoa, podendo até ser encontrados com facilidade em outras. A singularidade de alguém será constituída muito mais pela maneira única com que cada um irá lidar e desenvolver suas particularidades ou características individuais.
O que faz de alguém um ser a quem amamos, o que nos dá o sentimento de poder escolhê-lo entre tantos e continuar a amá-lo até quando muitas circunstâncias tiverem mudado, é por certo aquilo que o torna insubstituível, que traz a característica única de se poder descrevê-lo como “aquele e não outro”.
Assim também, é claro, o que o outro ama em nós, não são as nossas qualidades abstratas isoladamente, mas tudo o que nos distingue e faz com que não sejamos iguais a nenhum outro.