Crianças e suas agendas

Filhos
21.abr.2015

Sabemos que, quando se trata do futuro de nossos filhos no contexto social, desejamos todos praticamente as mesmas coisas. Ou seja, que eles consigam extrair o máximo de seus talentos em potencial, e que sejam saudáveis e felizes, em qualquer ordem.  Só que, até chegar a ver isso acontecer, será preciso percorrer um caminho de longo aprendizado. A questão que se coloca é: como achar o ponto certo entre o fazer demais ou pouco por eles? Para chegar perto do equilíbrio, teremos de ignorar a influência de nossos pares, isto é, dos outros pais. E aprender a confiar, sobretudo, no nosso bom senso: é dele que vamos precisar, e muito, para desenvolver nosso próprio estilo de maternidade ou paternidade.

Quando acontece de uma criança  ter a vida excessivamente planejada por seus pais, ela fica sendo uma espécie de simples “executora”: passa os dias pulando de uma a outra atividade, de cuja escolha nem sempre participou. Logo poderá estar meio atordoada e sem tempo, veja só, para começar a descoberta das suas verdadeiras preferências pessoais. Grande parte de seu tempo é empregado na tentativa de atender às expectativas de seus pais.

É claro que, nos anos muito iniciais, os filhos não tem ainda condições de escolher por si. Mas é preciso ter em mente que as crianças necessitam aprender gradualmente a lidar com o risco, o medo e o fracasso. E muitas vezes parece que, planejando o dia de seus filhos da forma como planejam o seu próprio ( de modo a caber o máximo de atividades na agenda), alguns pais estariam  tentando “proteger” seus filhos justamente do inesperado. Aqui se pretende pensar que tudo o que não controlamos e que cerca nossos filhos seria perigoso ou mesmo nocivo, prejudicial à sua formação. Só que, dentro do “inesperado” está também tudo o que poderia vir a partir da sua criatividade.

Nosso estilo de vida contemporâneo e super urbano já subtrai aos filhos muitas oportunidades de viver uma infância mais plena, com tempo livre suficiente para permitir que soltem a imaginação e criem brincadeiras. Nosso medo, entretanto, é que fiquem hipnotizados diante da televisão ou da internet.

Preencher a agenda de nossas crianças de forma a deixá-la lotada, não vai torna-los, é preciso que se saiba, adultos bem sucedidos. Apesar disso, a pressão para que as coisas sejam assim vem de todos os lados: da escola, da mídia, do grupo social, da família, dos amigos… Nossa sociedade está obcecada pela competição, pelo acerto e pela perfeição. Excesso e exagero estão por toda parte. Todos temos que ser simplesmente o máximo em tudo, não há meio termo. Com isto, a tendência dos pais passa a ser achar que, se não oferecerem aos filhos tudo o que os outros tem, estarão deixando de cumprir seu papel.

Com as agendas de todos superlotadas, a família  fica exausta demais até para tentar conviver.  Cria-se uma situação em que falta energia para deixar a criatividade buscar novas formas de interagir. E, além do mais, nossas crianças precisam de tempo. Seja para brincar, coisa que ajuda na compreensão do mundo que as cerca, seja para desfrutar de suas novas descobertas, seja para processar tantos e variados estímulos que lhes chegam.

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