Ao longo de nossa vida, há alguns momentos em que deixamos de ser simplesmente nós para sermos “de” alguém mais, no caso de um casamento, ou “de” uma corporação ou “de” uma instituição, em nossa profissão. Sem perceber, por exemplo, quando começamos num novo emprego e passamos a pertencer a um determinado grupo profissional, nosso nome vira “Fulano de tal, da empresa tal”. O segundo “sobrenome”, o corporativo, logo passa a fazer parte de nossa identidade e viramos um personagem, o dono daquele nome. É por meio deste personagem que nos relacionaremos e nos apresentaremos ao mundo, enquanto o emprego ou o casamento existirem.
E o que acontece quando, após uns tantos anos, deixamos a instituição que nos identificava no meio social? Algo que não é fácil: ao deixarmos o personagem para trás, nos deparamos de novo com nossa verdadeira identidade. A estranheza de encarar o mundo no papel de si mesmo, de lugar nenhum – ou “de” ninguém – é, de fato, um novo “desafio”, como diz o jargão corporativo em seus comunicados internos de desligamento. A sensação não é nada boa, por mais que a pessoa tenha desejado e lutado por aquela separação. Em geral, não estamos preparados para o processo de luto, com todas as suas fases. E, como sempre, somente ao final do luto é que haverá um novo caminho a ser seguido. E, curiosamente, todo mundo ouve falar das dores das separações amorosas, mas pouco se fala das dores ocasionadas pelas rupturas profissionais.
De novo no mundo, quem é você, para onde vai? Como, em geral, o que se planeja não é o que costuma ocorrer, é preciso estar, mais do que nunca, aberto às traquinagens da vida, que só com o tempo tornará mais claras as verdadeiras opções de alguém. Num primeiro momento pode acontecer de a pessoa, livre, achar que pode desempenhar quase qualquer novo papel, querendo agarrar tudo o que vê como oportunidade passar diante de si. Só com o tempo, porém, é que saberá o que realmente tem a ver com o seu novo momento. Por eliminação e fazendo suas experiências, acaba chegando lá, no seu novo ambiente, na nova temporada de sua existência.
Quando se sai da rede de proteção de uma instituição, uma corporação ou um casamento, tem-se, por um lado, as perdas e o vazio da ausência, seguidos por um período de luto. Por outro lado, há a chance de se ganhar muito, mas muito mesmo, em diferentes dimensões. A saber, com segurança: mobilidade, independência e, fundamental, o reencontro com seus próprios valores e vontades. E muito mais, com o tempo, e a conferir…