As diferentes visões de amor

A Dois
08.maio.2018

A revolução sexual dos últimos trinta anos não modificou o erotismo feminino, que continua a alimentar-se de conteúdos sentimentais. As mulheres são consumidoras fiéis de todo um ideário romântico, que é hoje cuidadosamente elaborado para lhes ser vendido. Assim, personagens masculinos são especialmente compostos para atender às expectativas românticas das mulheres ao redor do mundo, em filmes, novelas e literatura. 

Mesmo convivendo na vida real com companheiros e parceiros muito diferentes do ideal que lhes é apresentado pelo mercado, um grande contingente de mulheres resiste em se desfazer de sua crença no personagem masculino criado pelas fantasias românticas e vigorosamente sustentado pela cultura até hoje.

É verdade que as mulheres contemporâneas estão mais disponíveis para ligações passageiras, romances de férias ou até mesmo encontros de uma só noite. Apesar disso, poucas mulheres consideram a relação sexual como um fim em si, apenas como troca de prazeres. A maioria continua não separando a realização sexual do compromisso emocional. As mudanças dos hábitos sexuais que vêm ocorrendo nas últimas décadas acabaram por privilegiar não o amor e sim, o sexo sem investimento emocional.

Há muito se pensa e se escreve sobre a grande importância que tem o amor na vida das mulheres. Pensava-se que, depois de exercerem, durante tantos séculos, um papel social marcado pela dependência e pelo confinamento ao lar, o que lhes teria restado seria construir seus sonhos em torno das questões amorosas, transformando-as em sua verdadeira razão de viver. Ultimamente tem se pensado também que, através do amor a mulher teria acesso ao reconhecimento de sua pessoa como única e insubstituível (ou, pelo menos, essa seria a imagem que ela faria de si mesma, ao saber-se amada).

O fato é que as mulheres amam o amor. Para a grande maioria delas, o compromisso amoroso representa, além da possibilidade de enriquecer a vida subjetiva, um sentido para a própria existência.

Já os homens vivem o amor de outra forma. A grande maioria pretende se proteger da entrega amorosa. Até serão capazes de declarar às mulheres que estão em busca do amor, mas em seu íntimo, diferentemente delas, não têm, em geral, a crença de que o amor possa lhes acrescentar algo de substancial à vida.

Nos tempos atuais, em nossa cultura, muitos homens frequentemente têm preferido relações talvez monogâmicas, porém de curta duração. Na cultura do provisório que nos cerca hoje em dia, onde tudo é fugaz, os homens parecem ser os que estão mais à vontade com o modelo das relações cada vez mais descartáveis. E muitos parecem viver satisfeitos dentro dessa escolha. Não priorizam o amor e tampouco acham a vida menos colorida sem ele. Têm outros interesses onde se colocam com o vigor que as mulheres colocam em seus investimentos afetivos. Acabam por buscar relações mais práticas e adequadas às suas opções de vida.

Neste momento de grande mobilidade de costumes que ora vivemos, os homens parecem ter se adaptado melhor aos novos modelos de relacionamentos transitórios. As mulheres, por sua vez, continuam na busca de um relacionamento mais estável, ancorado na vinculação afetiva entre o casal. Apesar destas diferenças bastante claras, homens e mulheres seguem se encontrando…

 

assinatura_simone

Artigos relacionados

17 mar

Amamos a singularidade

  Volta e meia ouvimos falar da singularidade, ou seja, da natureza única de alguém. Do que falamos nesses casos, exatamente? Uma maneira de se definir a singularidade seria afirmar que se trata  do conjunto das características  de alguém que, digamos assim, não ficam no “particular” e estão mais para algo que se aproxima do […]

  • 4730
A Dois
19 fev

A nova ousadia amorosa

Dia desses falávamos das incertezas amorosas do cotidiano moderno. Na verdade, somos um pouco prisioneiros de nossas fantasias de onipotência, já que costumamos nos dizer que nossa vida afetiva só depende de nós, de nossas boas decisões e de uma “boa gestão” de nossos sentimentos. Tendemos a acreditar que, assim como aprendemos  a administrar bem […]

  • 2222
A Dois
13 jul

A escolha de ser só

Enquanto, nos anos 70, foram as feministas que elogiaram a solidão, parece hoje que são as jovens gerações que abraçam cada vez mais a solitude, preferindo-a  às cada vez menos suportadas uniões problemáticas e cheias de tensão. Naquela época, muitas feministas escolheram viver sozinhas, não somente para alinharem sua vida privada com sua ideologia, mas […]

  • 1646
A Dois