Já se foi o tempo em que o conhecimento das teorias psicanalíticas ficava restrito aos consultórios e às análises que lá aconteciam. Muitas noções se difundiram com certa facilidade através dos meios de comunicação e foram assimiladas livremente pela nossa cultura. Outras, entretanto, infelizmente ganharam um significado um tanto deturpado.
Um conceito que se generalizou e que parece não ter sido muito bem compreeendido é a noção do trauma. Nunca os pais se preocuparam tanto em não traumatizar os filhos. Passou-se a acreditar que os filhos não podem ser contrariados, ou melhor, frustrados, sob pena de ficarem traumatizados e tornarem-se adultos infelizes.
A psicanálise, que proverbialmente sempre “culpou a mãe por tudo”, tornou-se um elemento persecutório na mente dos pais. Nenhum pai ou mãe quer ser acusado no futuro de ter traumatizado seu filho, negando-lhe a satisfação de seus desejos. Perdeu-se o bom senso – um elemento indispensável para o pai e a mãe saberem distinguir os anseios cabíveis dos excessos de seus filhos; o “não” foi banido do vocabulário dos pais por ter se tornado um sinal inequívoco de pais repressores, antiquados e autoritários.
Todavia, os pais não podem imaginar como o “não” é necessário à formação do ser humano. Aprender a suportar a frustração de não poder ter tudo o que se quer, no momento em que se quer, torna os indivíduos muito mais aptos para a luta pela sobrevivência. Poder adiar a satisfação de seus desejos, aprender a não ser tão imediatista, possibilita aos filhos organizar melhor a vida e os ajudam a estipular os projetos e metas para o futuro.
Já os indivíduos que julgam que todos os seus desejos têm de ser imediatamente atendidos tendem a se tornar eternamente insatisfeitos. Podem até permanecer à margem da sociedade produtiva, não conseguindo nela ingressar, por viverem à espera de que alguém lhes dê, enfim, aquilo a que julgam ter direito. É o final real, mas que poucos imaginam, para uma criança que foi poupada de negativas por parte dos pais.