Em nossos dias, ouve-se muito falar que não se deve “influenciar” as escolhas dos filhos em relação à carreira que queiram seguir. Que as escolhas brotarão espontaneamente, quando for a hora. Como em muitos outros casos, uma dose de bom-senso se faz ausente, e a compreensão passa a ser: “não se deve intervir de jeito nenhum”.
Aqui, vale uma observação: uma coisa é orientar, ajudar a pensar, ou mesmo pensar junto, quando existe muita dúvida a respeito de algum tema. Outra é não deixar espaço ao filho e tentar lhe impor a própria vontade.
Para trilhar este novo caminho de pensar, podemos começar indagando a nós mesmos, pais, se nos imaginaríamos sendo do jeito que somos hoje, quando, lá atrás, escolhemos nossa profissão. Provavelmente não, e mais: muitos dos nossos sonhos e metas foram criados a partir de necessidades pessoais, surgidas ao longo de nossa trajetória de vida. Independentemente da profissão escolhida, o que saberíamos, na adolescência, de nossas futuras necessidades, anseios ou desejos?
Hoje, é comum a pessoa exercer uma profissão completamente diferente daquela em que se graduou na faculdade. As pós graduações, cada vez mais necessárias para uma boa inserção no mercado de trabalho, é que vão definir de verdade a trajetória profissional de alguém. Com o tempo, a pessoa vai acabar se encaminhando para alguma área onde se sinta mais à vontade e onde possa se desenvolver com mais facilidade e satisfação. Como todos temos diversos talentos, é o caso de se repensar a história do “eu não seria feliz se não fizesse isto”. Não fomos feitos para “dar certo” em uma só atividade, podemos exercer diversas com alegria.
Uma intervenção pragmática por parte dos adultos pode ajudar, já que muitas vezes se vê os jovens, sobretudo hoje em dia, sonharem com um sucesso profissional para o qual não se preparam. Acham que são especiais, que merecem o sucesso, e que ele praticamente lhes é devido. Ajudá-los a entender suas verdadeiras chances, situá-los num mundo que se torna mais e mais competitivo, será de grande valia. Uma atitude sensata passa por auxiliá-los a não acreditar em facilidades ilusórias. O caminho é árduo, mesmo que se faça o que se goste. E trabalho não é diversão, como parece ser a expectativa de muitos, que imaginam vir a lidar com algo de que gostem tanto, que trabalhar chegaria a ser “divertido”, praticamente um lazer.
Será de grande ajuda, por exemplo, conversar com os filhos sobre o estilo de vida que pretendem levar. É comum adolescentes não terem ideia de quanto custa o tipo de vida que levam na casa dos pais. Uma conversa objetiva vai ajudá-los a se inserir na realidade. Mostrar como está o panorama para as profissões em questão com certeza ajudará. Falar do mercado de trabalho, trazer dados da vida real para conversar, sem medo de estar se intrometendo.
Por receio de “oprimir”, nós, pais, preferimos muitas vezes nos omitir completamente. Ou então, nos fechamos numa única posição, impossibilitando o debate. Atribuímos as dúvidas de nossos filhos ao suposto fato de terem de escolher “tão cedo” uma profissão. Esquecemos que conosco foi igual, as coisas não mudaram tanto assim. E participar deste processo não precisaria ser tão complicado, como tem sido para tantos de nós.