Volta e meia ouvimos alguém tentar explicar o surgimento de uma doença grave. Palpites do tipo “ele estava deprimido” ou “ela teve um grande aborrecimento” são frequentes quando as pessoas se referem a quem foi acometido por uma doença grave. Uma antiga polêmica diz respeito ao papel do estresse como fator capaz de desencadear o câncer, entre outras doenças. Muitos pesquisadores têm se interrogado sobre o impacto das emoções negativas na gênese de doenças graves, mas fato é que ainda não existe um consenso sobre isso.
O que se sabe é que o estresse é multifatorial e individual, e que os limites do sofrimento emocional variam muito de um indivíduo para outro: um evento que para alguém é suficiente para desencadear uma reação psíquica desfavorável não o será para outra pessoa. Além disso, o estresse se conjuga a diferentes fatores também variáveis, como o estilo de vida de cada um. Não é possível isolar nenhum parâmetro de estresse psicológico simples, presente num determinado estilo de vida e compará-lo a fatores incontestavelmente maléficos para qualquer pessoa, como o hábito de fumar.
O estresse, por si só, não se constitui numa doença. Cada um de nós é capaz de gerir as pressões sobre si a curto prazo, mas experimentamos maior ou menor dificuldade ao passar por uma exposição prolongada a pressões intensas e repetidas, que nos levem a vivências duradouras de ansiedade, angústia, depressão. É a forma com que cada indivíduo resiste às pressões que vive que deverá influir, no longo prazo, em seu sistema imunológico e, em última instância, em sua saúde física e psíquica.
Para que de fato se possa vir a afirmar que há uma ligação entre estresse e várias doenças, será preciso continuar as pesquisas, com estudos rigorosos e bem controlados. Especialistas que tenham acompanhado durante anos centenas ou milhares de pessoas serão até capazes de reconhecer, informalmente, que constatam a existência de um drama psicológico nos anos que precederam a aparição de um câncer, por exemplo, em grande parte de seus pacientes. Mas isso quer dizer que todos aqueles que viveram momentos emocionalmente difíceis desenvolverão necessariamente um, nos próximos anos? Claro que não. E quer dizer que, sem um drama pessoal ou sem um choque emocional, um câncer não se produzirá? Certamente não, também, já que este tipo de conclusão não pode ser ainda aferido pela ciência.
As doenças não devem ser psicologizadas, de forma simplista: muitos pacientes diagnosticados com doenças graves afirmam que viviam a melhor fase de suas vidas. Mas é bastante provável que, se forem buscar num passado um pouco mais remoto, a conclusão será que todos já passaram por algum evento triste ou chocante. Porque, no fim das contas, todo mundo passa por situações difíceis e até traumáticas, faz parte da vida. Caberá a cada um tomar consciência disso e tentar responder às pressões da melhor forma possível, buscando preservar sua saúde emocional.
Alguns pacientes têm uma crença profunda no fato de que foram os eventos infelizes de suas vidas que os levaram a adoecer, enquanto outros passam longe desse tipo de associação. De qualquer forma, há um ponto sobre o qual todos concordam, após adoecerem gravemente: a necessidade imperiosa de passar a cuidar de sua vida emocional, para sair da doença e diminuir a chance de recair. Ter um acompanhamento psíquico, fazer escolhas coerentes, que façam sentido para si, encontrar motivos para continuar de pé e ativo. E os reveses? Estes precisarão ser aproveitados como experiências emocionais transformadoras e não como fontes de ressentimento e amargura.