Impertinentes são pessoas inconvenientes, atrevidas e insistentes? Nada disso, dizem alguns interessados no assunto. Caso aprendam a utilizar de maneira construtiva a energia e a coragem que a revolta lhes dá, podem surpreender a si mesmos. O que isso quer dizer, na prática??
Quer dizer que é preciso aprender a criar, nas relações de trabalho ou pessoais, incluindo aquelas onde existe alguma hierarquia, condições para uma confrontação pacífica e construtiva. Saber exprimir questionamentos e ideias aos nossos pares ou superiores hierárquicos sem nos alterar, com clareza e simplicidade, é a condição básica para um confronto pacífico. A seguir, é preciso estabelecer um diálogo positivo para chegar a soluções originais.
Alguns raros indivíduos já nascem com tal talento, mas a maior parte de nós vai precisar aprender a se tornar um pouco “impertinente” na vida. Não só dá mais trabalho, como é bem mais difícil psicologicamente, se opor do que estar de acordo com alguém. Em geral, até preferimos nos parecer com os outros. Em certas situações de trabalho, o desafio costuma ser maior ainda. Se alguém que é hierarquicamente superior diz coisas grosseiras, inapropriadas, e ninguém à nossa volta diz nada, travamos uma luta interna, mas em geral não nos sentimos autorizados a abrir a boca. E nos sentimos péssimos.
Uma impertinência construtiva será, por exemplo, recusar-se a participar da aceitação do que consideramos impróprio. Para começar, não nos permitiremos olhar com indulgência alguém que diz barbaridades, alegando para nós mesmos que agimos assim porque não podemos fazer diferente. É mais fácil manter o sem noção à distancia do que confrontá-lo, é o que nosso individualismo acomodador nos diz. Será preciso um pouco de coragem, mas aguardar o momento de dizer a esse alguém em particular que nos sentimos desconfortáveis pela maneira como ele faz certas coisas, nos fará muito bem. Se isso de todo não for possível, é preciso considerar que aquele talvez não seja o nosso ambiente. E, já que não é possível mudá-lo, cabe a nós ir buscar onde nos façam sentir respeitados.
A impertinência em geral não é bem vista: ela é logo associada a personalidades rebeldes, difíceis, demandantes… Na verdade, pessoas impertinentes são movidas pelo desejo profundo de fazer bem o seu trabalho. São também pessoas que refletiram acerca do papel da hierarquia e que disseram a si mesmas que líderes são necessários, mas que este é apenas um papel a mais na sociedade. E que aqueles que desempenham este papel tem, humanamente, a mesma importância que os outros.
Quando já desenvolvem uma certa impertinência construtiva, as pessoas deixam de aceitar se colocar, somente por princípio, em posição de submissão. Elas querem é, também no ambiente de trabalho, se sentir mais de acordo consigo mesmas. Preferem estar dentro das relações de forma muito mais simples e direta, com respostas claras e objetivas. E almejam, como consequência, chegar em casa ao final do dia com energia para sua vida privada, e ainda com a sensação de estar no comando de suas atitudes.
Difícil demais? Talvez nem tanto: simplesmente recolocar o respeito mútuo no centro da questão pode ser um excelente começo…