Inovações casamenteiras

A Dois
16.set.2014

A agora antiga lógica de casar por amor e pela existência de um projeto de vida em comum está banida de grande parte do grupo dos jovens. Foi substituída por outras: a do imediatismo, praticidade e exclusão do vínculo e compromisso; e a do novo “determinismo cronológico”.

Era com um projeto de vida em comum que os casais se uniam até um tempo atrás. Difícil lembrar até quando, mas não deve ter sido há tanto tempo assim. Mas, para uma grande parcela de jovens adultos, não é mais. O “novo normal” hoje é namorar e começar a passar grande parte do tempo juntos em alguma das casas, ou nas duas. É praticamente um novo tipo de coabitação, um morar junto parcial, meio casual.

A uma certa altura, resolvem morar juntos oficialmente, mas o principal motivo da decisão é a questão da comodidade e da economia. Ninguém fala em compromisso ou casamento, fica aquela coisa meio vaga, meio como uma experiência. Neste ponto, entretanto, acontece um fato peculiar: em geral, enquanto para “ele”, não há ainda um compromisso, “ela” já se sente casada.

Podem ficar assim, economizando o segundo aluguel algum tempo, e depois se separarem.  Ou podem seguir assim por alguns anos, até que ela resolva querer ter um filho. Muitas vezes, apesar de até concordar, ele continua não tendo, com aquela parceira, um projeto de vida.  Nunca fizeram planos, nem conversaram de forma consistente sobre o que estão vivendo. O resultado é, com frequência, uma separação pouco tempo após o nascimento do bebê. “Eu não estou pronto para isso”, encerra o papai. No caso, nem se chegou a formar uma família de verdade e a criança terá boas chances de ter um pai pouco presente em sua vida. Algumas vezes até, é como se tivesse ocorrido uma “produção independente”, só que não conscientemente planejada.

Outro comportamento atual é o assim nomeado por estudiosos “determinismo cronológico”. Trata-se do fato de alguns homens jovens determinarem, para si mesmos, que não se casarão antes de tal idade. Não declaram isso para as mulheres que vão conhecendo, lógico, mas se afastarão tão logo percebam que estão diante de alguma “perigosa” mulher, daquelas que ele poderia amar de verdade. Determinados e racionais, rompem com esses amores nascentes sem maiores explicações. Alguns  preferem  mesmo não romper, dão logo um primeiro bolo do nada, e a seguir deixam de responder às mensagens ou atender ao telefone. Incomunicáveis, inencontráveis, desaparecem até que a outra parte entenda que acabou. Foi aposentada, após uso até a exaustão, a estratégia de “o problema não é você, sou eu, estou confuso…” Agora o melhor é simplesmente sumir e deixar que o outro perceba que ficou só, algum tempo depois. Cruel, egoísta? Sim, mas bem ao gosto do nosso tempo atual.

Esses mesmos homens, quando vão chegando perto da idade que determinaram para si mesmos,  partem para a busca acelerada da pessoa que possa preencher a “vaga” que abriram.  E, com frequência, acabam se casando com alguém que conhecem naquele período que definiram. Muitas vezes, concluem seu plano sem sentir o mesmo amor que já vivenciaram por outra, descartada por surgir fora do período estipulado.  Estranho?  Sim, “mas, pelo menos”, pensarão, “eu estou no controle da minha vida”…

Como cada vez menos os casamentos são para sempre, as pessoas podem até voltar a se casar e aí, quem sabe, terão a oportunidade de ser mais criteriosas em suas escolhas. Mas esta suposição pode ser otimista, não afiançável.  A única afirmação que se poderia fazer acerca desses novos padrões de comportamento, é que nenhum desses expedientes traz  a garantia do “não  sofrimento”. O medo de sofrer está, afirmam os estudiosos deste tema, na origem destas e de outras atitudes que tentam controlar ativamente a formação dos vínculos amorosos e o antigo resultado deles, a vontade de se comprometer.

 

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