Jovens, expectativas e esperanças

A Dois
13.nov.2018

Muitas vezes falamos em “esperança” e, na realidade, estamos pensando em “expectativa”. Como entender as linhas mais ou menos sutis que separam os dois sentimentos?

Podemos começar lembrando, por exemplo, que a expectativa ocorrerá toda vez que depositarmos em alguém a responsabilidade por nossa satisfação ou felicidade. Esse tipo de sentimento, é claro, não pode fazer bem a ninguém e frustrações serão inevitáveis. Já a esperança pode significar, por exemplo, ter sonhos que serão levados adiante com paciência, persistência e esforço.

Com esperança, somos capazes tanto de tomar decisões com mais ponderação, como de ir, aos poucos, aprendendo a trazer para nós mesmos a responsabilidade por nossos erros e acertos. Um certo grau de maturidade, entretanto, é necessário para que se possa admitir e aceitar com naturalidade os próprios erros. Se o processo de amadurecimento não se concluiu, a chance de se passar a vida buscando culpados pelos próprios erros é grande. Bem como de adotar a atitude, diante de certas situações de vida, de “fazer de conta” que nada do que está ali acontecendo tem a ver com os próprios desacertos.

Algumas noções necessárias ao processo de amadurecimento vem se tornando particularmente difíceis aos jovens hoje em dia, dificultando sua adaptação à vida adulta. Saber tomar para si a responsabilidade por seus atos é uma delas, assim como aprender a ouvir o outro, admitindo-se que ele pode ter algo a agregar. Assimilados, esses aprendizados terão sido grandes passos dados, no processo de não se tornarem adultos infantilizados e despreparados para o mundo real, quando se virem fora do espaço protegido das famílias.

Ao ingressarem na vida adulta hoje, é comum nossos jovens trazerem consigo a expectativa de um reconhecimento que supostamente lhes é devido, pelo simples fato de serem quem são. Muito estranho, não é? Mas esta tem sido uma distorção muito frequente, que se manifesta tanto na vida profissional como na pessoal. A consequência é que esses jovens adotam em sua vida a postura de ficar à espera dos louros que, pensam de antemão, lhes pertencem e certamente virão ao seu encontro… Nossos queridos jovens não sabem que, isto não somente não acontecerá, como nem desconfiam do mais importante, talvez: o fato de que, só quando cada um de nós atinge um alto grau de comprometimento (isto é, responsabilidade) consigo mesmo, é que está habilitado a trazer o melhor para sua vida. No caso disto não ocorrer, ficará fixado na falsa premissa de que “isto não é problema meu”… E continuará esperando o milagre da entrega daquilo que supostamente é seu, sem se integrar ao mundo à sua volta. Viverá numa espécie de bolha, “esperando,” e assim não tomará as rédeas, com seus próprios recursos e de maneira única, daquilo que, de uma ou de outra forma, será sua trajetória pessoal.

Ao aprender a se envolver mais fortemente com o que lhe diz respeito, e tendo adquirido o nível de responsabilidade adequado, os jovens passam a perceber que os rumos de suas próprias existências dependem muito mais de si mesmos do que imaginavam. E que somos todos, em grande parte, o resultado de nossas decisões e escolhas.

 

 

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