“Mansplaining” e “manterrupting”: novas palavras para velhas atitudes

Mulher
27.jun.2017

Estou adorando essa história de descobrir como as mulheres estão se manifestando sobre certos “vícios” masculinos! Hoje já podemos saber com certeza certeza que algumas coisas que nos incomodam no dia a dia são cada vez mais perceptíveis a muitas de nós, mesmo nessa nossa sociedade ainda tão patriarcal. Parece que estamos ficando mais espertas e esclarecidas em relação a um assunto antigo, que diz respeito ao hábito masculino de pré estabelecer a capacidade feminina de entender algumas coisas.

Contração em inglês das palavras “man” (homem) e “to explain” (explicar), a palavra “mansplaining” surgiu por volta de 2008 e está em evidência mundial  agora por conta de alguns grupos de mulheres (feministas?) anglo-saxãs e escandinavas. Sabe como? Na Suécia, de tanto protestar, as mulheres acabaram de conseguir que o principal sindicato do país colocasse à disposição da população feminina um número telefônico onde elas podem denunciar o mansplainig. O que é isso?? Não se assuste: se você é mulher, vai reconhecer algo muito familiar. Mesmo as que nunca ouviram a palavra antes, certamente já vivenciaram o que ela significa. Quem não se lembra do tom condescendente e paternalista do  vendedor numa loja, por exemplo, que se dirige à bonitinha tonta que ele acha que você é, para lhe explicar o funcionamento de um aparelho, ou lhe “ajudar ” na leitura de um conceito talvez sofisticado demais para o seu pequeno cérebro?  E isso pode acontecer também no ambiente de trabalho ou na sua vida a dois, em maior ou menor escala.

Apesar da reação radical das nórdicas,  muitas mulheres estão ainda tão habituadas à condescendência masculina que não se sentem maltratadas quando sujeitas a isso, o que faz com que a expressão tenha o grande mérito de identificar e nomear um tipo de abuso corriqueiro. Após a tomada de consciência, cada uma de nós passa a estar apta de exercer a recusa do seu próprio jeito.

Outro fato bem interessante foi a iniciativa de algumas mulheres que trabalhavam dentro de corporações americanas. Nos últimos anos, elas vem se se organizando para  combater  o “manterrupting” , uma tendência masculina já descrita, que consiste no ato de homens em reuniões corporativas interromperem as mulheres quando elas estão expressando um pensamento ou opinião própria e, com frequência, encamparem as ideias delas como se deles fossem. A iniciativa criada por elas e batizada de “amplificação”, consiste no seguinte: sempre que, numa reunião de trabalho, uma mulher se expressa e ninguém lhe dá ouvidos, as outras mulheres presentes passam a repetir sua proposição, uma de cada vez, alternadamente, até que ela seja levada em consideração. Muito bom, não é?

Esses são exemplos bem atuais de reações a atitudes que, no fundo, traduzem preconceitos contra as mulheres que continuam arraigados na população masculina. São atitudes aparentemente pequenas, mas que vem deixando mais e mais claro para o mundo os diversos graus de opressão a que estão submetidas as mulheres. O fato de assédios tão sutis estarem vindo à luz deve nos comover a todas, mulheres, e nos lembrar sobretudo que é preciso abraçar sem restrições a causa da igualdade de gêneros.  E mais: por uma convivência harmoniosa e respeitosa para todos, é preciso que a igualdade também seja um problema de todos.

simone_sotto_mayor

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