O bullying nas escolas, alguns anos depois

Filhos
08.abr.2014

Algumas vezes não nos damos conta de que evoluímos como um todo em nossa sociedade. Vamos a duras penas, em geral bem lentamente, mas seguimos em frente efetuando algumas transformações vitais. O que aconteceu com o “bullying” nas nossas escolas nos últimos 15 anos, é um belo exemplo de que existe esperança para uma sociedade quando ela se conscientiza e clama por mudança.

Esta semana, por algum motivo, me lembrei do caso de uma criança que sofreu bullying na escola desde que começou a usar óculos, aos 4 anos de idade. Corriam os anos 90 e a família vivia numa grande cidade brasileira. A criança cresceu, e o assédio  foi ficando ainda mais intenso, ao revelar-se aluno com desempenho acima da média.

Após inúmeras tentativas de sensibilizar a direção da escola e assistir às tímidas intervenções empreendidas de volta,  os pais resolveram mudar a criança para outro colégio que, em tese, já praticava uma “política anti-bullying”. Em pouco tempo, tudo outra vez: a criança começou a ser rechaçada pelo novo grupo pelo mesmo motivo, as boas notas. A direção da escola não tomou nenhuma providência. Somente num terceiro colégio, onde as noções de solidariedade/cidadania já eram trabalhadas, a criança pode se integrar.  Ajudou ainda o fato desta última ser uma escola mais preocupada com as questões disciplinares e que incentivava seus alunos a atingirem os melhores resultados que pudessem.

Era um tempo em que a ignorância sobre o tema predominava amplamente. Por ser um assunto ainda novo, a omissão nas escolas era o caminho mais fácil. Talvez até, mesmo tendo já alguma consciência do problema, na prática, o lucro contava mais … Pois não seria improvável que, àquela época, algumas escolas não se entusiasmassem com a possibilidade de virem a perder alguns alunos, no meio do ano letivo. Se inevitável fosse, que ao menos se  perdesse um só: a vítima.  Como os pais em geral não tinham consciência do problema,  era fácil fazer prevalecer a velha máxima de “os incomodados que se retirem”,  até acrescida de um “não tenho nada a ver com isso”…

Hoje, durante o processo de escolha da escola para seu filho, os pais podem e devem se informar acerca da posição da escola em vista, em  relação ao bullying.  Saber se a escola possui e se pratica uma política anti-bullying tornou-se fundamental. Porque, sem o apoio da escola, os pais sabem que pouco ou nada poderão fazer na ocorrência de bullying. Não há pacto possível com os assediadores e, se a escola não tem uma atitude firme de rechaçar o assédio, a solução, muitas vezes menos sofrida, ainda é trocar a criança de escola.

A boa notícia é que muitas escolas tem hoje um posicionamento lúcido e efetivo contra este tipo de evento. Em muitas, denunciado o bullying e agressores localizados,  suas famílias são convocadas à escola, para que o fato lhes seja comunicado e elas também possam intervir . No caso de nem os familiares conseguirem fazer com que a atitude de seus filhos se modifique, os assediadores podem até vir a ser convidados a se retirar do colégio. Este é um grande sinal de transformação positiva: em vez da vítima ser penalizada, localizam-se os agressores e o grupo social não compactua mais com isso.

No caso de uma escola não ter uma politica clara e rigorosa a respeito do bullying, é de se perguntar: por que ainda não? Algumas dirão, talvez, que nunca tiveram este tipo de problema, o que também pode absolutamente não ser verdade… Pode ser puro comodismo ou, ainda, a  antiga lei de se colocar o lucro acima de tudo. Ou seja, nada de entrar  em confronto com grupos familiares que não sabem colocar limites para seus filhos, mas são bons pagadores.

Pode ser que o bullying nunca acabe, pode ser até que seja parte da natureza humana. Mas os pais de hoje tem, ao menos, a opção de buscar e escolher uma escola que já esteja engajada, de forma  bem definida, no combate ao bullying. Este certamente passa a ser, atualmente, um critério tão válido quanto tantos outros já estabelecidos, na pesquisa pela melhor escola para os filhos.

assinatura_simone

Artigos relacionados

4 maio

Dia das Mães ou Travesseiros na Janela

Dia desses visitei uma cidadezinha de colonização alemã e reparei nas casas com travesseiros nas janelas, preguiçosos, tomando um solzinho pela manhã. Imediatamente me lembrei de minha mãe, que aproveitava as manhãs de sol para colocar na janela os travesseiros de casa. Era um hábito, quase um ritual, que ela manteve até no fim da […]

  • 1338
Filhos
24 abr

Pais críticos: o diálogo que não acontece

Pais controladores e muito críticos tentam dialogar com os filhos, mas não conseguem. O resultado são diálogos vazios, relatos burocráticos de atividades totalmente impessoais. Como as perguntas são feitas em tom que já denuncia a crítica, os filhos, compreensivelmente, ficam inibidos e com medo de expor suas opiniões. Pode acontecer de, durante muitos anos, nem […]

  • 2881
Filhos
10 dez

A liberdade na adolescência

Ninguém tem dúvidas de que a juventude, em nossos dias, desfruta de uma liberdade desconhecida das gerações anteriores. Hoje, o pensamento dominante entre os jovens parece ser de que limites existem para serem ultrapassados em várias áreas. Acumular o maior número de experiências no menor espaço de tempo, tudo bem rápido e passageiro, passou a […]

  • 13428
Filhos