Algumas vezes não nos damos conta de que evoluímos como um todo em nossa sociedade. Vamos a duras penas, em geral bem lentamente, mas seguimos em frente efetuando algumas transformações vitais. O que aconteceu com o “bullying” nas nossas escolas nos últimos 15 anos, é um belo exemplo de que existe esperança para uma sociedade quando ela se conscientiza e clama por mudança.
Esta semana, por algum motivo, me lembrei do caso de uma criança que sofreu bullying na escola desde que começou a usar óculos, aos 4 anos de idade. Corriam os anos 90 e a família vivia numa grande cidade brasileira. A criança cresceu, e o assédio foi ficando ainda mais intenso, ao revelar-se aluno com desempenho acima da média.
Após inúmeras tentativas de sensibilizar a direção da escola e assistir às tímidas intervenções empreendidas de volta, os pais resolveram mudar a criança para outro colégio que, em tese, já praticava uma “política anti-bullying”. Em pouco tempo, tudo outra vez: a criança começou a ser rechaçada pelo novo grupo pelo mesmo motivo, as boas notas. A direção da escola não tomou nenhuma providência. Somente num terceiro colégio, onde as noções de solidariedade/cidadania já eram trabalhadas, a criança pode se integrar. Ajudou ainda o fato desta última ser uma escola mais preocupada com as questões disciplinares e que incentivava seus alunos a atingirem os melhores resultados que pudessem.
Era um tempo em que a ignorância sobre o tema predominava amplamente. Por ser um assunto ainda novo, a omissão nas escolas era o caminho mais fácil. Talvez até, mesmo tendo já alguma consciência do problema, na prática, o lucro contava mais … Pois não seria improvável que, àquela época, algumas escolas não se entusiasmassem com a possibilidade de virem a perder alguns alunos, no meio do ano letivo. Se inevitável fosse, que ao menos se perdesse um só: a vítima. Como os pais em geral não tinham consciência do problema, era fácil fazer prevalecer a velha máxima de “os incomodados que se retirem”, até acrescida de um “não tenho nada a ver com isso”…
Hoje, durante o processo de escolha da escola para seu filho, os pais podem e devem se informar acerca da posição da escola em vista, em relação ao bullying. Saber se a escola possui e se pratica uma política anti-bullying tornou-se fundamental. Porque, sem o apoio da escola, os pais sabem que pouco ou nada poderão fazer na ocorrência de bullying. Não há pacto possível com os assediadores e, se a escola não tem uma atitude firme de rechaçar o assédio, a solução, muitas vezes menos sofrida, ainda é trocar a criança de escola.
A boa notícia é que muitas escolas tem hoje um posicionamento lúcido e efetivo contra este tipo de evento. Em muitas, denunciado o bullying e agressores localizados, suas famílias são convocadas à escola, para que o fato lhes seja comunicado e elas também possam intervir . No caso de nem os familiares conseguirem fazer com que a atitude de seus filhos se modifique, os assediadores podem até vir a ser convidados a se retirar do colégio. Este é um grande sinal de transformação positiva: em vez da vítima ser penalizada, localizam-se os agressores e o grupo social não compactua mais com isso.
No caso de uma escola não ter uma politica clara e rigorosa a respeito do bullying, é de se perguntar: por que ainda não? Algumas dirão, talvez, que nunca tiveram este tipo de problema, o que também pode absolutamente não ser verdade… Pode ser puro comodismo ou, ainda, a antiga lei de se colocar o lucro acima de tudo. Ou seja, nada de entrar em confronto com grupos familiares que não sabem colocar limites para seus filhos, mas são bons pagadores.
Pode ser que o bullying nunca acabe, pode ser até que seja parte da natureza humana. Mas os pais de hoje tem, ao menos, a opção de buscar e escolher uma escola que já esteja engajada, de forma bem definida, no combate ao bullying. Este certamente passa a ser, atualmente, um critério tão válido quanto tantos outros já estabelecidos, na pesquisa pela melhor escola para os filhos.