A convivência dentro das famílias e mais especificamente entre pais e filhos costumava ser, até o recente advento das mídias, a escola do companheirismo humano, da riqueza espiritual, emocional e da proximidade física. Hoje, o que se vem tendo mais e mais, é a substituição da intimidade verdadeira pelos tipos de “contato” em voga. Até telefonemas estão excluídos das novas formas de comunicação, que se esmeram na arte de diminuir as possibilidades de interação real.
Diante disso, um desafio dos tempos atuais passa pela descoberta de novas possibilidades de se vivenciar uma intimidade prazerosa no seio das famílias. Com tantas solicitações do mundo ao nosso redor, disputando nossa atenção em qualquer tempo livre que possamos ter, como resgatar o gosto simples da convivência e suas alegrias, aquelas que verdadeiramente contam?
Crianças e adolescentes necessitam de ambientes onde possam aprender a formular e expressar suas opiniões; espaços de convivência fazem-se necessários. Na atual tendência de se passar mais tempo fora de casa, as famílias passaram a criar os filhos fora do ambiente doméstico. Circular com eles pelos shoppings no final de semana virou um programa comum, mesmo que não se tenha em mente nada para comprar. Que tal então, em vez da tradicional ida ao shopping, levar os filhos a assistir a filmes, exposições, peças de teatro e depois conversar sobre o que foi visto, trocando opiniões? Levá-los a conhecer a cidade onde habita a família, explorar seus arredores, se possível visitar outras cidades será sempre positivo, pois o contato com as diversidades de culturas, hábitos, culinárias, etc. ajudará a semear a tolerância e apreciação em relação às diferenças, essencial para o presente e futuro dos filhos. Espaços de convivência criados em viagens em família, curtas ou mais longas, são únicos, pela oportunidade de se vivenciar dias de intimidade restaurada por experiências, impressões e alegrias compartilhadas.
Pode parecer pouco, mas estas são excelentes formas de convivência, que trazem ganhos expressivos. Além de estimular o sentimento de grupo e, com isso, a solidariedade, vão exercitar também a capacidade de reflexão. E refletir (ou “parar para pensar”) sobre o que se vê ou se vive é parte fundamental no processo de aprender a pensar com autonomia.
Para o sucesso desse estilo de viver, entretanto, é fundamental apreciar conversar e querer saber do outro, genuinamente. É algo que se expande naturalmente, a partir desses momentos de convivência. Neles, é possível sentir a intimidade crescendo com a proximidade, o companheirismo, a união, a intensidade dos afetos, a consolidação dos vínculos. E ainda tem o gosto da risada compartilhada e o fantástico aprendizado de rir de si mesmo, indispensável para o amadurecimento…
São novos tempos esses em que vivemos, com renovadas formas de criar intimidade fora do espaço doméstico, vivenciando e desfrutando juntos os mais diversos tipos de experiências. E estas serão as que realmente contarão, por terem a força de permanecer por inteiro dentro de nós, para sempre.