O mundo das máscaras

Comportamento
12.maio.2015

Em um passado razoavelmente remoto, os mascarados se divertiam, assustando crianças no Carnaval, coisa que na atualidade poderia até ser politicamente incorreto. Mais recentemente, passamos a  preferir importar a tradição americana do Halloween, com suas máscaras com cara de abóbora, para fingir que assustamos os pequenos.

A propósito de máscaras, usava-se, muitos anos atrás, a expressão de gíria “mascarados” para nomear as pessoas que afetavam ares de superioridade, pedantes. O ar “blasé” (que quer dizer cansado, entediado), em versão nacional ganhou esse nome, na época.

Outros tempos, diferentes valores: adultos tentam assustar outros, usando “máscaras” de mentira, em nossa onipresente sociedade das aparências. Aqui, de repente, mesmo sem ser Carnaval, você pode se ver num baile de máscaras do século XXI. Quer saber como ir a um baile de máscaras, inesperado e fora de época??

É simples: você é convidado/a para uma reuniãozinha ou uma festa, por exemplo. Você não faz parte do grupo dominante, aliás não conhece quase ninguém, mas aceita. Pronto!! A chance de um evento social, na sociedade narcisista em que vivemos, vir a ser nada, nada, além de um festival de caras, bocas e olhares, é grande.

Lá, além de ninguém se aproximar para socializar, é bem provável que muitos afetem por você ares de infinita indiferença, como se não lhe enxergassem. Não deixarão, entretanto, de lhe lançar constantes mas disfarçados olhares, a lhe escrutinar de alto a baixo. Nenhum sorriso, entretanto, virá em sua direção, tampouco um esboço de conversa: a atitude é a de uma antipatia gratuita, ficando a um passo da hostilidade aberta… “Uau!! O quê é isso??”, você se pergunta. Porque, é claro, é sempre uma surpresa, ao menos nos primeiros quinze minutos. Mas não precisa se assustar, é só uma moderna espécie de jogo social, que talvez você tenha de jogar algumas vezes em sua vida. E, numa ocasião como essa, não vai adiantar tentar ser simpático, cordial ou gentil. O que fizer neste sentido será, na melhor das hipóteses, entendido como um sinal de reconhecimento da “superioridade” daqueles seres inatingíveis. E só.

Mas que roubada, hein?? De repente, você está lá. E eles são muito mais numerosos. Você nem sabe bem como foi parar lá, podia estar fazendo tantas outras coisas de que gosta! Reparando bem, você identifica pedantes de várias  gerações, e até mesmo famílias inteiras de pedantes… e você só ali, tentando socializar. Nada. Tais pessoas, você começa a se lembrar, só tratam bem quem elas julgam, aprioristicamente, ter algum valor. Ao resto do mundo, que não estão interessados em conhecer, reservam uma aparente e estudadíssima infinita indiferença.

Bom, se serve de consolo, fique sabendo que cenas assim são protagonizadas por quem, no fundo, não se sente seguro e trata de negar isso, dando a si mesmo uma suposta supervalorização e simultaneamente desmerecendo os demais. Complicado demais?? Então, vamos simplificar.

Se você cruza com gente assim com frequência, trate de desenvolver técnicas. A primeira é saber, para sempre,  que não é pessoal: qualquer outro ser fora do estreito foco de interesse das pessoas em questão, despertaria nelas a mesma reação. Nada do você que fizer ou possa ter feito terá a ver com a forma como lhe tratam.

A sugestão, portanto, é: ignore-os também. De caso pensado, e com todas as forças. Mesmo não sendo da sua natureza, vale a pena o esforço. Faça cara de paisagem, enxergue através deles. Ou seja, você os olha mas não os vê, vê além deles. E, sobretudo, não tente ser insistentemente simpático!

Agora, se você não cruza com frequência, se foi só um “pequeno erro de cálculo” aceitar aquele convite, alegre-se: é só ir rapidinho embora da festa!!

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