O perdão, na prática

A Dois
02.out.2018

Hoje em dia, ouve-se muito falar que acumular mágoas e rancores faz mal, impedindo as pessoas de se desenvolverem e seguirem bem em suas vidas.  Fala-se que é preciso perdoar para prosseguir.  E muita gente se pergunta: o que é, na vida prática, perdoar alguém? Como uma pessoa de boa vontade pode saber que perdoou alguém?

Perdoar pode significar, por exemplo, não se lembrar mais com raiva do que aconteceu. Ou não xingar a pessoa mentalmente toda vez que se pensa nela. Quando não se perdoa, o ódio emerge com uma rapidez impressionante cada vez que se pensa no desafeto ou no fato desagradável que nos ocorreu. Esse ódio toma conta de nós momentaneamente e começamos a remoer, ou seja, repassar o que aconteceu conosco. Isso gera amargura, estado que, se passar a nos dominar, funcionará como um corrosivo, fazendo “sangrar uma úlcera” em nossa alma… Passamos a ficar reféns de sentimentos como raiva, impotência, frustração. E é por toda esta sequência de eventos em nós que é muito mais cabível perdoar. Esquecer, virar a página. Não tentar mais entender o que se passou. Mudar o enfoque, abandonar o sentimento de ter sido injustiçado. Sim, foi, e daí? Acontece em algum momento, com todo mundo.

Antes do perdão, ficamos no estágio da indignação ou da incredulidade,  e repetimos a nós mesmos a pergunta: “como alguém pode fazer isso comigo??”. Estamos perdendo tempo, claro, pois todo mundo faz coisas com os outros, o tempo todo. Mas parece que nossa mente teima em ignorar este dado e ficamos, meio que estupefatos, balbuciando toda vez que o fato vem à nossa lembrança: “Como fez isso COMIGO????” Ao invés de ficar estarrecido com a “audácia” de alguém ter nos tratado desta ou daquela maneira, como reagir  ao fato desagradável? Antes de tudo, procurando não ser a vítima. Pensando: “Aconteceu, sim, comigo. Só que acontece com todo mundo, o tempo todo. É da natureza humana, e pronto!!” Aconteceu, já é passado, e não dá para desfazer. É aí que começa o perdão. E a libertação para seguir a própria vida, sem espaço para chorar pelo que passou. O que precisamos saber  e que pode ajudar bastante é que, ao perdoar alguém, não é imprescindível incluir a pessoa em nossa vida novamente. O perdão é algo que interiorizamos, para seguirmos apaziguados nosso caminho. Aos poucos, estaremos mais aptos a escolher com quem queremos conviver, passar a vida.

E o perdão a si próprio?? Ah, este é o suprassumo da libertação. Porque tem a ver com o apreço a si mesmo, o admitir-se humano, com suas imperfeições. Livrar-se da culpa, do sentimento de fracasso ou de incompetência, colocar um limite na própria onipotência. Aprender a se perdoar é um sinal de maturidade emocional. Mas é claro, vem a ser totalmente diferente daquele que se “perdoa” vida afora, achando, no fundo, que nunca fez nada de errado.

Por último, é sempre bom lembrar  que nosso “eu,” imensamente suscetível, é às vezes nosso pior inimigo. Voraz, toma para si o que lhe é dirigido e também o que lhe passa a grande distancia. Como consequência, achamos que tudo é conosco, e nos ofendemos à toa: muitas vezes, não tem nada a ver conosco, mesmo. As pessoas são agressivas sem necessidade ou, simplesmente, não tem educação.

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