No século XVII, a medicina preconizava a purga dos fluidos, estes “maus humores”, dos quais o líquido espermático fazia parte. A razão da purga é que os fluidos estariam ligados à origem das doenças, de acordo com a crença da época. Vem daí a imagem do homem refém de uma sexualidade “higiênica” e da mulher responsável por cuidá-lo, ajudando-o a se “limpar”. Esta bizarra ideia ainda encontra apoio em nossos dias? Pode ser que sim, já que muitas de nós ouviram pelo menos uma vez algo relacionado a esta crendice…
A questão é que a sexualidade costuma ser uma fonte de relaxamento físico tanto para homens como para mulheres, graças à produção de endorfinas durante o ato sexual. O fato, porém, da sexualidade masculina passar pelo evento da ejaculação, pode levar um homem a “sentir” que é a expulsão daquilo que ele imagina lhe invadir que lhe oferece conforto e relaxamento.
Reduzir a sexualidade masculina somente a tal mecânica dos fluidos é tentar fazer um homem acreditar que vive à mercê de uma energia explosiva e perigosa, presente em si, que precisaria ser neutralizada pela prática sexual. É também lhe fazer crer que suas tensões em geral e sua excitação sexual, em particular, não são de sua responsabilidade, mas resultam de uma provocação exterior, da qual ele seria a vítima a sucumbir.
Todas estas coisas, é claro, não estão presentes na consciência das pessoas, já que são hoje conceitos que, racionalmente, são facilmente contestados por serem arcaicos, politicamente incorretos, etc. Mas se, no fundo, no fundo, alguém ainda tem este tipo de entendimento, sua percepção inconsciente do tema da sexualidade humana se dará por este ângulo, numa visão extremamente simplista da sexualidade.
Na verdade, o que o exercício da sexualidade propõe de intimidade é muito mais, pode oferecer tanto alívio de ansiedades como prazeres em cascata. O encontro “pele a pele” remete à memória corporal da nossa segurança em seus primórdios. Primeiro, dentro da vida intrauterina, depois nos braços maternos ou, mais amplamente, parentais. Emoldurando o quadro, o olhar do outro e seu desejo nos reasseguram quanto a nós mesmos e à serenidade do vínculo. O prazer experimentado nesses encontros íntimos nos tranquiliza e nos convida a uma leitura otimista de nossas vidas.
Ao mesmo tempo, tais momentos de intimidade física não deixam de nos remeter a nós mesmos e à nossa história pessoal. Pensar que os homens estariam isentos de toda esta gama de impressões e sentimentos equivaleria a dizer que eles seriam destituídos de emoções e de registros inconscientes de emoções. O que, sem dúvida, não poderia ser uma visão justa nem correta, não é mesmo?