Das pesquisas e dos preconceitos

Comportamento
17.fev.2015

Fala-se muito, hoje em dia, de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Muitos ainda discutem se isto “pode” ou “não pode” acontecer…

Um grupo de cientistas da Universidade de San Diego, Califórnia, já está muito à frente desse debate. Há 12 anos, iniciaram um estudo comparativo entre casais heterossexuais e homossexuais, patrocinado pelo NIH (National Institute of Health). O estudo, que começou com 1000 casais, tem hoje 750 sendo acompanhados e busca entender que tipo de contribuições este grupo social (casais homossexuais) já trouxe a uma instituição tão estabelecida como o casamento.

O estudo deverá evoluir por mais 8 anos, num acompanhamento total de 20 anos.

Que dados surpreenderam os pesquisadores nas avaliações feitas ao longo dos primeiros dez anos, recentemente publicadas? Primeiro, que um número expressivamente maior de casais homossexuais estava bem mais satisfeito com seus casamentos, em comparação com o grupo heterossexual. Depois, que conflitos tinham uma incidência marcadamente menor no grupo homossexual. Neste grupo, chamava a atenção também o registro de índices, bastante elevados, de  intimidade e confiança mútuas. Os casais gays referiam-se com maior frequência a seus parceiros como alguém com quem podiam certamente contar, e por quem tinham um alto nível de afeto. Além disso, estavam mais felizes em suas vidas sexuais, em comparação com o grupo heterossexual.

Para tentar explicar tais resultados, os pesquisadores levantaram algumas hipóteses interessantes. Uma delas diz respeito à comunicação: casais do mesmo sexo, dentro da mesma cultura,  e que foram educados de forma parecida, teriam maiores chances de se comunicar melhor. No caso específico desta pesquisa, o grupo heterossexual foi formado, preferentemente, por casais em que um dos integrantes é irmão, ou alguém do mesmo grupo social de um participante do grupo oposto.

A favor desta hipótese são citadas várias outras pesquisas, que apontam para o fato de que é comum homens acharem mais simples a comunicação com outro homem, enquanto, da mesma forma, mulheres consideram mais fácil compartilhar seus pontos de vista com outras mulheres.

Ainda que refiram índices de satisfação mais elevados com seus casamentos, os casais gays tem a tendência a se  separar mais. Após 3 anos de acompanhamento, havia cerca de 30% de separações a mais entre os casais do mesmo sexo. Como isto se explicaria?  Os pesquisadores tendem a ver na presença deste dado um sinal de que fatores externos – como pressão familiar, filhos e compromissos financeiros assumidos a dois – podem exercer um papel maior na duração dos casamentos heterossexuais, do que simplesmente o grau de satisfação com o relacionamento em si. Tais pressões estariam menos presentes, ou mesmo ausentes, no caso de um casamento entre pessoas do mesmo sexo.

 

Tomei conhecimento dos resultados desta pesquisa numa edição indiana do jornal inglês “Times”, há exatos dois anos atrás. Por ser a Índia um país onde questões sexuais ainda são cercadas de fortes tabus, até me surpreendi com a publicação, naquela edição dominical.

E hoje a coloco aqui, quando vemos nossa sociedade sendo instada, seguidamente, a rever alguns de seus mais arraigados “pré-conceitos” ou pré-julgamentos. Falando em nossas diferenças, quem sabe conseguimos refletir e conviver com elas com mais serenidade? Esperemos que sim…

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