Pseudoterapias: o que são?

Filhos
14.out.2014

Dia desses, li que o número de crianças em terapia tem aumentado nos últimos anos e que “estar em terapia” virou sinal de status: pacientes de 9 anos só estariam fazendo  terapia porque os amigos também fazem. Fico sabendo ainda que, em determinados grupos, “fazer terapia” tornou-se algo tão bem-visto quanto usar marcas de certas grifes. Tudo isso por aqui mesmo, no nosso universo brasileiro. Como foi acontecer isso??

O hábito de buscar dividir com psicoterapeutas a responsabilidade de educar/criar os filhos vem de longa data. Mesmo sem sintomas muito relevantes, crianças e adolescentes são encaminhadas às psicoterapias. O que poderia ser um instrumento de grande ajuda na construção de relacionamentos saudáveis no ambiente familiar, às vezes revela-se inócuo.

O que se passa, então? Ocorre que, com frequência, os pais só estão inclinados a “matricular” os filhos numa terapia. Não pretendem mudar suas próprias atitudes na relação com os filhos, acham que os filhos precisam “entender” a verdade deles. E pronto. Tampouco estão interessados em ir, ainda que de vez em quando, ao consultório do terapeuta para iniciar um trabalho em parceria. É como se perguntassem: quanto custa? Eu pago! E sumissem. Zero de comprometimento, a não ser com o pagamento.

Nessas condições, o sucesso terapêutico torna-se difícil , porque nada se equipara à ascendência dos pais sobre seus filhos. Por melhor relacionamento que consiga estabelecer com seu jovem paciente, um terapeuta nunca poderá fazer ou substituir o papel de pai ou mãe e “educar” o filho de alguém. Para o terapeuta, além de limitadora, é frustrante a situação de fazer um trabalho onde o apoio e a colaboração dos responsáveis é fundamental. Há pais que dizem, como se fossem eles as crianças: “ah, mas eu não consigo fazer diferente…” Geralmente, o fazer diferente seria fazer da forma saudável. Especialmente para o filho, é claro.

Curiosamente, pais infantilizados, regredidos, que pensam prioritariamente em si mesmos, com frequência tem filhos que se esforçam para “consertá-los”. Pode-se dizer, com segurança, que existem mesmo muitos filhos em terapia que são exponencialmente mais saudáveis que seus pais.

Quando acontece de ao menos um dentre os dois, o pai ou a mãe, conseguir se comprometer com o tratamento, a criança/adolescente apresenta melhoras, faz progressos. Já quando ambos possuem um grau de narcisismo exacerbado, sendo pessoas muito autocentradas, não vão conseguir empatizar com o sofrimento do filho, estabelecendo-se na família uma situação claramente disfuncional.

Ao terapeuta é preciso, nesses casos, discernimento e senso ético para não acabar estabelecendo um tipo de “pacto perverso” com a família. Nele,  pais e terapeuta “fazem de conta” que estão desempenhando seus papéis, e a criança permanece “matriculada”. Até comparece às consultas, mas sua terapia terá pouquíssimas chances de acontecer de verdade.

assinatura_simone

Artigos relacionados

7 fev

Herança emocional e cultura familiar

Cada família possui uma história, valores e crenças que influenciam a maneira de agir de seus membros. A herança emocional é algo que aparece desde cedo, já que os bebês se apossam das reações emocionais dos que estão à sua volta. Este é um fato confirmado por várias pesquisas: sem acesso à linguagem, são as […]

  • 5984
Filhos
2 jan

Nossos adolescentes vistos pelos outros

Revoltados, mal-humorados e desorganizados. Em casa, raramente nossos adolescentes nos mostram o melhor deles mesmos. Mas, ao olhar de outros adultos, eles se revelam de repente educados, gentis, prestativos e conversadores. Mesmo quando o clima não chega a ser de animosidade, dá para perceber pais desanimados e perplexos diante de filhos que lhes reservam apenas […]

  • 1447
Filhos
21 ago

A relação com os filhos adultos

A partir do momento em que conseguimos nos despedir do papel de pais, torna-se mais fácil nos relacionarmos, de forma não intervencionista, com nossos filhos adultos. Os melhores relacionamentos entre pais e filhos encontram-se nas famílias em que os pais foram capazes de manter o respeito e a admiração de seus filhos e puderam evoluir […]

  • 2182
Filhos