Pode-se aprender a deixar de amar alguém? Imersos no sentimento de perda, desiludidos amorosos do mundo se colocam as mesmas questões desde sempre: em que se apoiar para sobreviver a tal provação? Como ser ajudado a esquecer, como voltar a si por inteiro?
É claro que não há uma fórmula para acelerar a superação desse tipo de vivência. Mas bem que se tenta encontrar uma solução padrão: até a WikiHow, primeiro guia online que se propõe a ensinar como fazer qualquer coisa. No mundo real, as tentativas de ajuda vem de muitos lados, com “coachs” de todo gênero fazendo palestras, workshops, e escrevendo livros com propostas para a superação e o encontro de um caminho mais ameno após uma ruptura.
O que talvez nos sirva de consolo é que a mesmíssima pergunta é feita desde a Antiguidade: existe cura para a dor de uma ruptura amorosa? O poeta romano Ovídio escreveu, há mais de 2000 anos (mais precisamente no ano 2 de nossa era), o livro “Remedia Amoris” (“Remédios para o Amor”). Trata-se de um poema com 814 versos em latim, onde ele se propõe a ensinar “a arte de desamar”. Desta obra ainda se consegue retirar alguns fragmentos bem interessantes, que hoje até estão contidos em teorias psicológicas de enfoque positivista. Ovídio sugere, por exemplo: “comece por fugir da ociosidade; ela favorece o nascer do amor e o nutre; ela é ao mesmo tempo a causa e o alimento deste mal.” Mais adiante recomenda ao leitor que “trate de dissimular a dor, adote uma atitude que passe uma perfeita tranquilidade e esta calma, fictícia no início, se tornará real. Tendo a força de se acreditar curado, você se curará infalivelmente”. Ele adverte, com sabedoria: “Aquele que anuncia a todo mundo: ‘eu não amo mais’, ainda ama. É gradualmente e não de repente que se deixa de amar. Aceite que o ritmo é lento e estará salvo”. Incrível como é atual, não?
Freud também tratou o sentimento de perda em uma ruptura amorosa como um luto a ser vencido com o tempo. Luto, de maneira geral, é o sentimento da “perda de um objeto amado”, no jargão psicanalítico. Consiste nas etapas pelas quais alguém passa na superação desse sentimento, um trabalho psíquico que se dá pouco a pouco e com grande gasto de energia. Somente quando o trabalho de luto se conclui é que o ego fica outra vez íntegro e a pessoa volta a ser ela mesma.
O que podemos pensar do que dissemos aqui? Primeiro, quem estiver passando por isso agora sabe que é um mal que afligiu ou afligirá a todos, em algum momento. Segundo, após nossa rápida consulta ao passado da nossa civilização, vamos entender que, por conta própria e em nossas próprias vidas, chegamos à mesma conclusão que os pensadores citados: em casos de perdas, mesmo as mais dolorosas, é preciso contar com o tempo, somente ele, como nosso maior aliado…