São muitas as mudanças que ocorrem na vida de alguém que passa por uma separação conjugal. O que dizer do isolamento social que é, em geral, imposto aos que se separam? Tal situação, corriqueira como a própria separação, gera um sofrimento intenso de início: as pessoas não tem ideia, enquanto passam por isso, de que se trata de uma simples e momentânea fase da vida.
Logo após a separação, a tendência natural, mas que a maioria talvez desconheça, é de se perder muitos dos amigos que se tinha quando se era casado. O círculo social do qual o casal participava se rompe em vários pontos, sem que se possa evitar. Quando uma relação conjugal termina, os ex-cônjuges, aos poucos, vão sendo isolados do grupo a que pertenciam. É comum os antigos casais passarem a não se sentir mais à vontade perto dos que “mudam de categoria” e passam de casados a descasados. É como se não fossem mais todos parte do mesmo grupo, e isso vai ficando mais e mais presente com o passar do tempo.
A separação é um evento fortemente polarizador e desencadeia inúmeras emoções nas pessoas com as quais o casal original costumava conviver. Os amigos tendem a defender um ou outro dos cônjuges, muito raramente os dois. Assim, um verdadeiro inventário de amigos ocorre de forma espontânea, ou seja, perdem-se de vista muitas pessoas que ficaram “do lado” do/a ex.
Além do mais, existe a fantasia de que “se aconteceu com você, pode acontecer comigo também”. A separação de um casal é uma imagem viva e desconfortável para muitos casamentos no entorno que ainda se mantém de pé, mas que internamente já se encontram em crise, muitas vezes irreversível. E ninguém quer ter perto de si a imagem daquilo que, no íntimo, teme. Assim, aos poucos, quem se separou começa a perceber que sua problemática só pode ser compreendida por aqueles que viveram também a experiência da separação. Os que não passaram por isso, por sua vez, tampouco estão interessados em compreendê-la.
Uma separação é capaz de atingir profundamente o “eu” de quem passa por ela, chegando a transformá-lo em alguns pontos. Com a alteração de antigos pontos de vista, quem se separa passa a enfrentar seus problemas com referenciais diferentes dos que lhe norteavam antes. Torna-se alguém que evolui agora de forma mais crítica e independente e, de certa forma, uma pessoa “incômoda”.
O preço a pagar por tudo isso é ter o sentimento de solidão inerente à condição da separação aguçado, por não ser mesmo mais parte integrante do ambiente social a que estava acostumado. Os novamente solteiros se veem então diante de uma árdua tarefa: restabelecer as coordenadas culturais, sociais e emocionais através das quais seguirão vivendo. Tudo isso, é claro, de preferência, com o menor sofrimento possível.
É por isso que, na memória de quem já se separou, separações funcionam como verdadeiros marcos divisores de vida. Não é para menos, não é?