Já parou para pensar que, no campo profissional, a falsa modéstia muitas vezes substitui a humildade verdadeira? Os anglo saxões, que são os campeões do gênero, difundiram largamente o comportamento “low profile”, com seus discursos corporativos na linha do “eu não estaria aqui se não fossem vocês”… Só que, muitas vezes, pode não ser bem assim e tratar-se apenas de uma convenção social.
Mas, se os anglo-saxões cultivam e exportam tal convenção com sucesso, é sem dúvida porque ela encontra vasto terreno fértil para se desenvolver em nossa cultura judaico-cristã. Aqui, vale lembrar que ser humilde foi, inicialmente, inclinar-se diante de Deus. Os que não o faziam foram apontados pela Bíblia como os que pecam por orgulho, o primeiro dos sete pecados capitais Mas, tanto na religião como nas corporações, pode-se simular humildade e, ao mesmo tempo, manter-se o orgulho invisível.
E então, será que dá para diferenciar a verdadeira humildade, aquela “de coração”, da falsa modéstia? Sim! Embora as aparências sejam enganosas, é possível, com um pouco mais de atenção, distingui-las. A modéstia costuma se fingir de humildade com frequência mas, ao contrário dela, é exterior e superficial, em vez de interior e profunda.
Deu para entender? Melhor dizendo, a modéstia seria, na verdade, apenas uma questão de boas maneiras. Autores que fizeram a crítica da modéstia afirmam que ela com frequência implica numa arte da superficialidade, ou mesmo, hipocrisia. Voltaremos em breve ao tema, ao mesmo tempo antigo e contemporâneo. Enquanto isso, uma bela leitura sobre o tema encontra-se no excelente “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, de Andre Comte-Sponville, no capítulo da “Polidez.” Vale a pena explorar!