Sobre as “frígidas”, rapidinho…

Mulher
25.jul.2017

 

Lidando com temas atuais de assédio sexual, liberdade feminina, uma pergunta dia desses dançou por um minuto em minha cabeça. Gente, o que foi feito das mulheres “frígidas”? Onde andam? Nem se vê mais esta palavra, sumiu dos textos atuais. Pois me lembrei que minha mãe e minhas tias pertenceram a uma geração em que mulheres eram ditas “frígidas” se não aceitassem fazer sexo com seus maridos sempre que eles quisessem! Num tempo em que as mulheres não tinham se dado conta da extensão da dominação masculina, não havia muito como fugir de estereótipos, em se tratando do exercício de sua sexualidade. É verdade que pouquíssimo se sabia sobre a sexualidade feminina e que elas também não se sentiam à vontade para deixar claro, com seus parceiros amorosos, se gostavam ou não de fazer sexo. Por quê? Simples: veladamente, esperava-se  que não gostassem muito,  se fossem realmente decentes. Que tal?

Foi dificílima a vida daquela geração. Uma época em que as mulheres, em relação ao sexo, estiveram aprisionadas entre dois extremos irreconciliáveis: se gostassem de praticar sexo e deixassem a criatividade solta na cama, eram “liberais” ou “liberadas”.  E o que isso queria dizer, àquela altura? Boa coisa é que não era, isso sabemos hoje. No mínimo, acreditavam tratar-se de uma mulher disposta a experimentar alguns parceiros, sem fazer questão de se prender a nenhum. É inimaginável o que poderiam mais significar tais palavras; quem sabe todos os caminhos que o pensamento preconceituoso percorre? Mas uma coisa era garantida: claro era que mulheres assim não poderiam se tornar esposas. Além disso, não podemos esquecer que a dúvida masculina  sempre foi: “onde ela andou, quem ensinou isso a ela?” Não, mulheres não podiam ser simplesmente guiadas pelo instinto e participar com entusiasmo do ato sexual.  As ditas “boas de cama” ( mais uma nomenclatura para designar  o grupo das “não esposas”) com certeza só o eram porque teriam tido um (ou diversos!) professores homens.

No outro extremo estava o estereótipo do “ela não gosta de sexo, é frígida”… Tal diagnóstico era feito por um marido que assim obtinha um bom salvaguarda para agir à vontade, no campo da infidelidade conjugal. “Minha mulher é frígida” era a desculpa, por exemplo, para o sujeito abordar uma mulher solteira ou separada (“desquitada”), na intenção de com ela começar um caso. Aqueles eram homens que não tinham amantes porque queriam, coitados, a culpa era das mulheres frígidas que tinham em casa… Felizmente, parece que eliminaram esta categoria do repertório de tipos femininos, dou-me conta agora. As meninas aprenderam a se explorar, foram incentivadas a se conhecer, a buscarem o orgasmo sozinhas. Depois do “Relatório Hite”, a sexualidade feminina começou a ser finalmente desvendada. As mulheres passaram a desfrutar de uma vida sexual só sua, enfim adquiriram poder de decisão sobre seu corpo. Grandes conquistas ainda estão em andamento neste território, mas sabemos que o pior já passou.

Foi ótimo dar essa viajada no tempo enquanto me dediquei a escrever sobre o assédio sexual, assunto que este ano está com força total entre nós. E, melhor ainda, compartilhar neste espaço com vocês.

 

simone_sotto_mayor

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