Todos nós deveríamos saber que a experiência do conflito é a única forma de restaurar relações interpessoais abaladas: passar a limpo os pontos de divergências, de tempos em tempos, é necessário para a sobrevivência de qualquer relação verdadeira. Apesar disso, o que se vê é que cada vez se torna mais rara uma conversa civilizada, quando os interlocutores tem opiniões diferentes. Ou a discussão vira uma sessão de xingamentos mútuos ou simplesmente as pessoas se recusam a conversar e a defender seus pontos de vista. Desfazer um conflito é uma necessidade recente na história de conviver em sociedade e estamos condicionados a associar conflito com violência. Em geral, não queremos entrar em por medo de que ele saia de nosso controle e nos tornemos violentos.
Entretanto, conflitos, hoje em dia, são algo corriqueiro na vida relacional. Diferentes códigos de civilidade vão reger as relações., desde as de familiares às de vizinhos, entre inúmeras outras. E basta que uma das partes discorde de uma norma para que exista um conflito. Como não aprendemos a lidar com os conflitos, surge o confronto das ideias, que traz a violência às discussões.
E então, como lidar com o conflito? O essencial é aprender a se opor à opinião de alguém sem ser violento. A violência surge quando enxergamos aquele que se opõe a nós como alguém que está inteiramente equivocado ou que é inferior a nós. Ou seja, quando consciente ou inconscientemente, não o consideramos como nosso igual, em valor ou em direitos. A hostilidade se manifestará em nossas atitudes: passaremos a agredi-lo, humilhá-lo ou rejeitá-lo, tratando-o com indiferença ou recusando-nos a conversar.
Identificar a violência por vezes é difícil, pois ela pode ser sutil ou até se exprimir com doçura. Falsa doçura, que fique claro. Porque é possível fazer tudo o que acabamos de dizer sem elevar a voz, não sendo isso sinal de que consideramos o outro nosso igual.
Quando conseguimos entender a diferença entre a violência e o conflito, passamos a ter a chance de reconhecer nossas próprias atitudes “sutilmente violentas”. E também, é claro, vamos identificar com mais clareza se o outro está sendo agressivo ou não conosco. Caso esteja, podemos nos recusar a entrar ou sustentar uma discussão destrutiva . Caso contrário, será o momento de aceitar o conflito, o que passa a significar simplesmente que aceitamos estar em desacordo.